A crise é uma coisa que custa a perceber. É estranhamente familiar mas indesejável, não se sabe de onde vem nem para onde vai, gostaríamos de a renunciar mas, no fundo, toda a gente sabe que está connosco. A crise é como aquela prima mais velha que vive desde sempre em nossa casa. Eu sei porque tive uma prima dessas, chamava-se Diana!
A crise só pode ser uma palavra feminina, senão vejamos: aparece sem ninguém perceber de onde, dá-nos a volta à cabeça, comprometemo-nos por causa dela e, quando se vai embora, faz questão de nos levar o carro, a casa, às vezes até o emprego.
A crise é como o Sporting a jogar para o primeiro lugar: nunca acreditamos que chegue lá, mas volta e meia, de muitos em muitos anos surpreendemo-nos. O problema da crise, leia-se o NOSSO problema, é que os árbitros favorecem escandalosamente a crise. Nós somos flagrantemente roubados e, pior que isso, somo-lo segundo as regras! Uma coisa chata da crise, é que está sempre em alta, em grande forma. Quando aparece é imparável, irresistível. Quem nos dera ser a crise quando não estamos em crise.
A crise, tal como esta crónica se ameaça tornar, é uma verdadeira anáfora. A crise! A crise! A CRISE! Eu, se fosse Deus, processava a crise por apropriação indevida de bens, mas afinal quem é que é omnipresente?
Depois, a crise está irritantemente na moda. Depois do sexo, das novas tecnologias, do ambiente e do Cristiano Ronaldo, agora fala-se na crise! Tal como as pessoas que aparecem nas revistas do social, a crise não tem muitos amigos, é carente e, normalmente mostra mais do que o que tem. Se a crise tiver uma nacionalidade, é portuguesa! Tal como os tugas a crise vive acima das possibilidades. Só sobrevive graças a pessoas a quem dá jeito existir, tal como as celebridades das revistas, as mulheres dos jogadores de futebol e a astrólogos, em resumo, a toda a gente que aparece na TVI.
Se fosse uma pessoa a crise seria o Miguel Sousa Tavares. Arrogante, feia e presunçosa, mas a quem acabamos sempre por dar atenção. E tal como sobre o Miguel Sousa Tavares, eu não gosto de falar sobre a crise, embora admita que também já chegou à minha imaginação! (a crise e não o Miguel Sousa Tavaras, sape!)
Em termos sexuais, a crise é gay. Só se dá com outras crises e gosta de grandes bacanais. A crise imobiliária despoletou a crise financeira, que por sua vez acelerou a crise dos preços do petróleo, que por sua vez originou a crise energética que cedeu a sua vez à crise do futebol. Conclusão: o Leixões ocupou por várias semanas o primeiro lugar do campeonato. Isto, meus amigos, é grave, pior só mesmo se aparecer outra girls band nos Morangos com Açúcar.
Se falarmos de religião, facilmente percebemos que a crise é muçulmana. Gosta de arrebentar com tudo, mas preferencialmente com malta endinheirada, e toda a gente sabe que o Tio Patinhas tem uma costela israelita!
Durão Barroso disse há uns anos “O país está de tanga!”. Eu cá ainda não vi nada! E acho mal, porque se há país que tem clima para as miúdas se bambolearem de tanga é Portugal. Tivesse a crise chegado mais cedo, quiçá, assim seria. Mas não, nós até na crise fazemos questão de ser dos últimos!
Institucionalmente a crise demonstrou a inoperância do SEF. Então a crise é estrangeira e entra pelo nosso território adentro sem declarar nada na alfândega? Mas afinal a crise vem dos Estados Unidos ou do espaço Schengen? Porque diabo a crise não precisou de visto? E, se precisou, quem lho deu? Encontrem os responsáveis! Só a ASAE consegue rivalizar com a crise e fechar tantas fábricas, PME’s, cafés e feiras. Mas a crise ganha aos pontos no que toca a bancos. Só por cá já são dois! E isto faz-me lembrar a única coisa que não perdoo à crise: o facto de ser apenas uma rica pessoa em vez de uma pessoa rica. Podia ao menos ter o direito de escolher, não?
Às vezes interrogo-me se a crise não será um lobbie da comunicação social (e porque não dos humoristas/cronistas) para terem algo sobre que escrever…