quarta-feira, fevereiro 27, 2013

MISTERIOSOS SÃO OS DESÍGNIOS DO SENHOR...

"Eu só quero que me saia Marx! Eu só quero que me saia Marx!"
Eu rezei, a sério que rezei. Juntei as mãos e tal como disse Nuno Luz a descrever Augusto Inácio, fechei os olhos e olhei para o céu.
Mas deu sinal de ocupado.
Eu rezei para que me saísse um herege na rifa, mas Deus Nosso Senhor Todo-Poderoso, na sua Omnisciência e Sabedoria, não atendeu as minhas preces.
A Sociologia pediu-me contas acerca da estrutura e da acção, da causalidade e da compreensão quando eu tinha a táctica para para o capital e as mais-valias, para a hierarquia das ciências e berléubéubéu pardais ao ninho.
À saida da escola, um senhor de fato, gravata e gabardine, estende-me um livrinho azul. Vinha acompanhado de um outro homem, vestido de maneira mais informal, carregado até aos olhos daqueles livrinhos azuis. Olhei para a capa e reconheci imediatamente quem tinha acabado de me oferecer uma cópia do Novo Testamento: os Gedeões Internacionais. No autocarro, a caminho de casa, e porque não queria voltar a pensar na Sociologia, lá folheei as sagradas escrituras. Logo no início um pequeno índice. Escolhi a linha que dizia: Cansado, que era o que melhor descrevia o meu estado à altura. Remeteu-me para a primeira epístola de São Paulo aos Coríntios, capítulo 15, versículo 58: "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor."
Basicamente, foi a maneira de Deus me dizer: "Puto, deixa-te de merdas e prá próxima ou estudas antecipadamente, ou rezas antecipadamente, que Eu faço milagres mas não é desses!"

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Pornografia e Emigração: uma reflexão contemporânea


Toda a gente sabe que numa casa em que não há televisão, há, por norma, muita pornografia. Isto para dizer que eu não tenho televisão, mas tenho internet...
Estava eu a espreitar esse fórum fantástico que é o Facebook, quando me deparo com um post de um ex-colega meu sobre a estrela porno portuguesa Érica Fontes que caso não saibam, é uma menina muito prendada que recebeu recentemente um prémio da indústria porno americana, o XBIZ Award, na categoria de International Performer of The Year, 2013.
Ora este meu amigo expressava a indignação de a menina ser actualmente presença assídua nos talk-shows da nossa TV, e interrogava-se se alguém já teria percebido que a boca da rapariga serve para tudo menos para falar. Eu escrevi um pequeno comentário com o simples apontamento que a rapariga pode ainda assim inspirar as pessoas sem falar, não obstante utilizar a boca na mesma.
Se nos colocarmos no lugar de Érica Fontes (e Deus me livre de algum dia estar no seu lugar) revemos nela a velha história de outras e outros como ela: jovens dos 24 aos 35 anos, de habilitações superiores, cujo país não consegue dar resposta aos seus anseios profissionais e motivação para uma carreira ambiciosa. De referir que Érica tem ainda 22 anos, o que faz dela ainda mais habilitada e determinada.
Como milhares de portugueses desde sempre mas, infelizmente, mais acentuadamente nos últimos 3 anos, Érica emigrou para singrar na área profissional que a realiza: o porno, no caso dela. Ora nós já estamos fartos destes exemplos. Temos a Daniela Ruah na TV, a Michelle Brito nos courts de ténis, e agora a Érica a brilhar lá fora nos states. Na Europa continuamos a reboque do Mourinho e do Cristiano Ronaldo pelas mesmas tristes razões: são sobre qualificados!
            O problema, já se sabe, não é de agora. Portugal não consegue aproveitar todos os recursos humanos que forma. Se estivéssemos ao nível de uma Itália ou Alemanha na pornografia, quiçá tivéssemos mais Éricas Fontes. Estivessem os 3 grandes da bola ao nível do Real Madrid e do Barcelona, e o Mourinho e o Ronaldo ainda por cá paravam. No fundo, Érica faz o mesmo que todos os outros emigrantes de sucesso, inspira-nos. Infelizmente inspira muito mais aqueles com quem contracena, dos que aqueles como nós cá deste lado do Atlântico se limitam a visualizar as suas façanhas e professional achievements.
Fácil de concluir que o governo precisa de investir, entre outras coisas, no desenvolvimento da pornografia. A necessidade é óbvia mas, porém, não foram ainda apresentadas quaisquer iniciativas. Humildemente disponho algumas:
  • Investir em infra-estruturas tais como estúdios, piscinas, balneários, praias, jardins públicos, escolas, e tudo quando possa ser um bom local não só para se mandar uma trancada, mas filmá-la em condições.
  • Comparticipação de sites para o porno poder estar acessível a toda a população. Nisto o interior continua a ser ostracizado por causa da deficiente cobertura da rede de comunicações. Experimentem fazer um download da Érica numa cidade como Lisboa ou Coimbra e depois experimentem em Vila Nova do Coito (escolhi este nome de propósito) e vejam a diferença. O porno não chega, lamentavelmente, a todo o lado nas mesmas condições.
  • Benefícios fiscais para o comércio e serviços da indústria tais como IVA a 6% nas casas de alterne, peep-shows e sex-shops, por exemplo.
  •  Criar um programa de formação de profissionais porno, à semelhança do que se faz no futebol. Recrutar jovens na puberdade, levá-los para academias (Academia de Baco dava um lindo nome), formá-los(as) como profissionais e cidadãos e uma vez possibilitados de assinar um contrato legal de trabalho, soltá-los no mercado.

Quando confrontei o autor do post com a necessidade da jovem Érica de emigrar para se afirmar profissionalmente, ele respondeu afirmando: “Sabes como é, isto está fodido para todos. E para ela mais ainda...literalmente!”. Eu respeito a opinião de todos, como decerto já saberão, mas tive que discordar do meu amigo. Ao passo que a maioria de nós se farta de ser fodido e emigra para se sentir menos fodido ou não fodido de todo, a Érica Fontes, simplesmente por ter emigrado, quando mais fodida é menos fodida fica. 

terça-feira, fevereiro 05, 2013

As boas graças de Pedro Santana Lopes, seja lá o que isso for, ou, como eu prefiro chamar-lhe, uma bela duma dor de corno a ver 32 fotos dos bons velhos tempos...


Esta semana, ao folhear a revista “Sábado” que habitualmente não leio, deparei-me com uma pequena notícia cujo título é: “Então e eu, onde fico na fotografia?”.  A notícia remete para um post de Santana Lopes no seu blog onde expressa a sua indignação por, numa foto galeria apresentada no site do Expresso a  21 de Janeiro último acerca do 20º Aniversário do Centro Cultural de Belém, o seu nome  e outros (entre os quais os de Cavaco Silva, Ferreira do Amaral e o arquitecto responsável pelo projecto, Manuel Salgado) não serem referenciados.
O post tem o título “As Boas Graças” e começa com a frase “Os portugueses são um povo inacreditável a reescrever histórias (para não falar da História)”.  PSL desfia um largo repertório de méritos que teve na construção de uma das obras mais polémicas dos últimos anos, no nosso país. O CCB ficou pronto a tempo, diz PSL. As suas iniciativas de comunicação defenderam o projecto “contra tudo e contra todos”, inclusive num debate na SIC onde terá sido “esturricado” por Miguel Sousa Tavares, Pacheco Pereira e António Barreto. Segundo o próprio “Foi – passe a presunção – dos programas de televisão que me correu melhor.” Não passou a presunção, ó Pedro.
E continua, fui eu que nomeei a Comissão Instaladora, fui eu quem escolheu o primeiro Presidente, quem escolheu fulano para director disto, fui eu quem escolheu beltrano para director daquilo, resumindo, PSL escolheu toda a gente que trabalhava naquele edifício, do Presidente às senhoras da limpeza.
PSL faz referência a Luís Valente de Oliveira, Ministro do Planeamento e Ordenamento do Território aquando do lançamento do projecto, e a Teresa Gouveia, sua antecessora na Secretaria de Estado da Cultura como “Ministro inteligente” e os que escolheram o projecto, acrescentando que a “responsabilidade pela obra e por a defender, foi como contei.”
No final, mais um apontamento, “O primeiro nome a ser associado ao CCB, por justiça, deve ser o de Cavaco Silva. Um dia, quando as poeiras destes tempos assentarem, sê-lo-á devidamente.”
Eu só gostaria de perguntar a PSL se também gostaria que estivesse referido na foto galeria que um projecto de 31,5 milhões de euros custou, afinal, 200 milhões de euros mas que é na boa porque ninguém se chateou com isso? E se não acha que este seu texto é de uma dor de corno incompreensível? PSL, infelizmente não precisa de se colocar em bicos dos pés para nos lembrarmos da sua obra. Já agora também achei uma “boa graça” quando uma pessoa que não foi eleita pelo povo chegou ao cargo de primeiro-ministro por portas e travessas, onde se aguentou um período record de 9 meses, mas isso são contas de outro rosário. Claramente que o editor daquela pequena peça no Expresso terá dito a alguém: “vê lá se deixas o Santana Lopes e o Cavaco de fora disso”. Há assim tanta injustiça neste artigo? Haver ou não haver referência a Suas Excelências Exultantes Cavaco e Santana Lopes perverterá assim tanto a percepção de quem vir aquelas 32 fotografias? Há boas graças sem graça nenhuma, mesmo…

PS: Aqui ficam os links:

http://expresso.sapo.pt/o-20-aniversario-do-ccb=f780173

http://pedrosantanalopes.blogspot.pt/2013/01/as-boas-gracas.html

PPS: Não resisti a um título à la Lobo Antunes.