terça-feira, novembro 26, 2013

25 de Novembro SEMPRE!!!

A prova em como a História consegue ser, por vezes, injusta, é que ninguém sabe/quer/pode responder à questão: "Por que raio não é o 25 de Novembro feriado em Portugal?"
Como o disse hoje e muito bem o poeta Manuel Alegre "Eu não separo o 25 de Novembro do 25 de Abril porque o 25 de Novembro repôs o curso democrático do 25 de Abril." Só foi pena não rimar, Manél, mas OK.
O 25 de Novembro é a data em que os comunistas e os de extrema-esquerda entram em negação. É a Fernandinha dos adeptos do Porto. É o Luisão dos sportinguistas. É o minuto 92 dos lampiões. Todos sabem o que se passou, mas não gostam de falar disso. Envergonha-os.
As palavras do poeta são tão lúcidas que me apanharam desprevenido, confesso. A mim, sempre me deixou curioso esta data. Sempre perguntei aos meus pais, "mas afinal o que se passou a 25 de Novembro?" e a resposta era esta, mais coisa menos coisa "Opá, aquilo foi o Otelo que meteu os pára-quedistas a tentar levar o poder para a esquerda, e depois o Eanes mandou o Jaime Neves pôr ordem naquela gente toda antes que se matassem". Curto e grosso, acho que é uma bela explicação. Mas então, não é feriado porquê? "Ah e tal, aquilo no PREC era diferente, ninguém sabia às quantas andava, acordavam militantes dum partido e quando se iam deitar já eram de outro". Porreiro, pá.
Hoje foi feita uma homenagem, que afinal não foi uma homenagem, foi um "tributo" (agora vão ao dicionário ver as diferenças), ao General Ramalho Eanes, o homem que uns tempos depois do 25 de Novembro iria protagonizar uma das cenas mais heróicas da nova política nacional: a famosa pose em cima do carro que já tinha sido atingido por pedras e balas, em Évora, durante a campanha presidencial de '76. O tal que viria a ser o primeiro Presidente da República eleito após o 25 de Abril. O primeiro, atrevo-me eu a dizer, a ser eleito, ponto. Se tivermos em conta que os do Estado Novo eram mais mortos que vivos que votavam neles, e nos da Primeira República só os senhores betinhos é que votavam, não diria que foram eleitos, antes "elegidos". Mas isto sou eu, pronto. O General Ramalho Eanes é hoje apontado como um exemplo de cidadania. Não só pela sua longa carreira militar e façanhas políticas, mas sobretudo pela sua postura. Recusou a patente de Marechal afirmando que "não resultaria da promoção a marechal qualquer mais-valia para o país ou para as Forças Armadas". Elucidativo. Devíamos todos seguir o seu exemplo, sobretudo na coerência que ele diz ter (e com o qual eu por acaso concordo).
Se por um lado devia estar agradecido ao na altura Tenente-Coronel Ramalho Eanes, por outro estou profundamente triste por ter acabado com o PREC. Aquilo é que era, caramba. Só as siglas já eram qualquer coisa de extraordinário: havia o COPCON, o MFA, o MDP/CDE, a UDP, a CCRM, CARPML. Dava-se um pontapé numa pedra e aparecia um Comité ou uma Unidade Dinamizadora, ou ainda uma Frente Popular. Com o 25 de Novembro, tudo isso foi pelo cano abaixo. Deve ter sido uma altura bonita, porque toda a gente tinha afiliação política. Agora têm só afiliação. Ah, e armas em casa. Era bonito viver-se numa rua em que os de cima eram de uma extrema, os de baixo da outra extrema, ambos com um arsenal em casa capaz de rebentar com a casa dos parvos que não tinham partido, esses irresponsáveis comunó-fascizóides, dependendo do azimute.
Numa altura de crise, governados por um governo de centro-direita que ostenta mui orgulhosamente uma bandeirinha portuguesa (às vezes de cabeça para baixo) na lapela mas que é incapaz de usar um cravo nas comemorações do 25 de Abril, acho que devíamos reflectir mais na data do 25 de Novembro. Por mim, haveriam as "Comemorações Oficiais do 25 de Abril e do 25 de Novembro" e eram eventos todos os dias durante 7 meses para a malta se divertir a aprender sobre o PREC. Eram mesas redondas com o Otelo e o Portas, pintura de murais versão fascista, workshops de "Como privatizar uma empresa pública e meter camaradas nos Conselhos de Administração" ou de "Como ocupar terras no Ribatejo e Alentejo" ou ainda start-ups de nacionalização de bancos. Havia de ser um regabofe ainda maior do que já é. Porque todas as duas faces têm uma moeda. E as nossas crianças precisam de saber estas coisas para encararem melhor o futuro.
Isto só para dizer à malta de extrema-esquerda e fascizóide para serem amiguinhos sff... Há coisas mais importantes na vida. Por exemplo, aposto que esta semana ainda ninguém cumpriu o seu direito cívico de votar para expulsar um concorrente da Casa dos Segredos. Então estão à espera de quê?