Não tive, graças a Deus ou a
qualquer outra força suprema, muitos dias destes na minha vida, mas na passada
terça-feira dia 25 de Setembro vivi o derradeiro desses dias em que pensamos
que estamos no enredo dum filme do Tarantino com a cor do Tim Burton e o som do
Kusturica.
É
verdade, porém, que me pus a jeito. Aliás, o provoquei. Não há como o esconder.
Poderia ter evitado tudo aquilo, mas caramba! Se não estamos cá neste mundo
para viver à grande, estamos para fazer o quê? Meninos? Eu não!
Tudo
começou no final de Agosto quando um belo jantar entre colegas de trabalho
provocou o agendamento do próximo jantar. A malta não perdoa. Quando as coisas
correm bem demais, tem que haver nova oportunidade para descarrilar. Acho que é
síndrome dos profissionais da aviação. Foi o começo do caos, o jantar marcou-se!
O
primeiro problema ipso facto aparece quando a data de um jantar, coincide com a de um dos
mais queridos e estimados eventos que este vosso amigo frequenta por Faro: o
Almoço de Cotas de BMP. Na terça-feira do desfile académico a tradição ainda é
o que era: as bestas estão a ser praxadas, os mancebos não interessam nem à
cona da mãe, e os Académicos estão a praxar as bestas pelo que o pessoal com 4
matrículas ou mais tem que se entreter, leia-se embubadar, de alguma forma.
O
almoço correu de modo algo diferente dos dos outros anos, mas o resultado foi o
mesmo: aquela sensação estranha de irmos prós copos de óculos escuros! Tardada
na baixa de Osonoba a saquear litronas de tudo o que era mercearia e ainda
curtir um som e tirar fotos no final do desfile, de preferência com velhas
guardas jeitosas de safios enrolados ao pescoço.
Ainda
tive que muito a contragosto dar uma perninha na derradeira praxe das bestunças
BMPistas deste ano, o último afinal que terá essa honra, muito provavelmente.
Foi o suficiente para quase ficar com uma lagriminha ao canto do olho que nem o Bonga.
É
claro que o ideal seria a tourada ficar por aqui, voltar pra casa, dormir uma
sesta, tomar um banho e pôr-me (bem) cheiroso para o jantar que afinal
oficializa a minha despedida do mais fantástico grupo de trabalho com quem já
tive a oportunidade de conviver.
O
segundo problema é que a escassos cinquenta minutos do STD do evento, este
camarada ainda deambulava pela Rua do Crime com outros camaradas BMP a degustar
imperiais como se não houvesse amanhã.
Uma
boleia milagrosa e eis que este jovem alto forte e espadaúdo, já de novo nos
eixos tortos da sua preenchida agenda social, faz um pit stop em casa só para
tomar o já referido banho, desfazer a barba e reabastecer umas mines pró
caminho até ao jantar com o seu pajem espanhol e uma odalisca das arábias.
Ora
bem, isto quando se chega a um evento desta magnitude já a travar na roda não é
exactamente um bom presságio mas enfim. Negar-me é que jamais! O jantar
decorreu então de maneira intensa mas em câmara lenta e aqui o je queimou o
filme em muitas alturas pelo que perdeu grandes desenvolvimentos.
Rezam
as crónicas (as alheias porque eu não quero parecer demasiado parcial) infames
e caluniosas que eu não me calei durante o jantar, a cantar para os fraquinhos
beberem. Tudo em legítima defesa, porque houve claramente uma conspiração cuja
finalidade constituía cantarem para mim sempre que eu não estava a cantar para
os outros. Houve quem não compreendesse isso, o que denota uma clara falta de
respeito por alguém que já tivera passado o dia a fazer check-in de muitas
Super Bocks e Sagres!
O
esforço inglório de uma cabin crew para diminuir a turbulência desta minha
“viagem” esbarrou num piloto que transportava com ele vergonhosamente um
recipiente de dangerous goods que contaminou muito boa gente naquela sala. O
resultado foi que só de lá saí quando me fizeram push-back e com a ligeira
impressão de que tinha perdido o slot. A rotação no restaurante tivera sido um desastre!
Após
uma interessantíssima conversa da qual apenas resquícios ecoam nesta minha
cabeça oca de discernimento, vá de nos metermos num charter direitos ao recinto
da Recepção ao Caloiro.
Aí o
pânico estava instalado! Destroços de personalidades outrora sãs espalhados por
todo o lado, sendo que o meu pajem espanhol estava aterrado depois de ter
partido o trem de aterragem e colegas em transe como se tivessem sido raptadas por aliens ou se tivessem perdido no Triângulo das Bermudas! Nada bonito de se ver.
Como
cavalheiro que sou acabei a noite nos transfers dos duros e duras que se
aguentaram estoicamente comigo.
Pra
rematar, e nas vésperas de passados 10 anos dizer um espero que até
já ao Algarve, só quero dizer um muito obrigado sentido a todos quantos interagiram
comigo nestas minhas experiências loucas, que foram a de frequentar a mais
mítica licenciatura da instituição que é a UAlg e a mais louca equipa da melhor
empresa do aeroporto de Faro. Hei-de trazer-vos comigo se não no coração ou na
memória, garanto-vos que ficaram tatooados no fígado!
PS: Este artigo foi escrito ao abrigo do acordo ortográfico da IATA. Quaisquer dúvidas tenho a bondade de consultar um dicionário que eu não me vou dar ao trabalho de explicar a menos que peçam com jeitinho.