terça-feira, maio 23, 2006

Quando for grande quero ser como eles

Terça-feira, 16 de Maio de 2006: depois de quase 6 anos encerrada, a Praça de Toiros do Campo Pequeno, um dos ex-líbris da cidade de Lisboa, reabre ao público com pompa e circunstância. À actualidade, e tratando-se de Lisboa, esta expressão é sinómino de La Feria show e assim foi. Um espectáculo digno, grandioso e bonito. Escadarias a montes, tambores aos pontapés e numerosos bailarinhos com coreografias maricosas a dar um ar ainda mais imponente àquele magnífico espaço. Pelo meio, e à maneira da Carmen, um toiro lidado pelo cavaleiro Luís Miguel da Veiga e pegado pelo Grupo de Forcados Amadores de Évora com música por todo o lado, desde o fado às sevilhanas, passando pelo infalível Paso Doble. Como se trata de Portugal, festa não era festa sem uns milhares de VIP's, desde aqueles que toda a gente conhece mesmo que não saibamos o que fazem da vidinha além de aparecerem nas festas e revistas cor-de-rosa, até àqueles que sabemos o que fazem mas não percebemos que raio estão a fazer naquele local. A RTP1, a única estação que realmente faz serviço público em Portugal, fez uma mega-cobertura mediática à cerimónia, o que incluía entrevistas a todos e mais alguns que pisavam a passadeira rubra, sempre sinal de luxo ainda não percebi muito bem porquê...
Num dos pontos de reportagem estava a sempre bela Sílvia Alberto, a nova menina bonita da televisão estatal. Eis que aparece a rainha (sem coroa) do jet-set nacional, a sempre incisiva e brilhante Lili Caneças. Depois de referir umas 29 vezes que o "Campo Piqueno" era isto e aquilo e o outro, Sílvia Alberto lança-lhe uma pergunta carregada de sagacidade, algo de extremamente interessante para o futuro do País e da Humanidade, algo transcendente a questões triviais como o preço do barril do petróleo de Brent ou o aquecimento global e consequente alargamento do buraco na camada do Ozono; essa pergunta era algo do género: "Ah e tal, isto agora tem lojas e coiso, na volta inda vens p'raqui esturrar o guito que tens sem ninguém perceber muito bem porquê e o camandro...". OK, não foi bem assim a pergunta mas eu só decorei a resposta, em relação ao novo centro comercial no sub-solo da praça, a graciosa Lili respondeu, e atentem nas palavras por favor:
"Olha quem sabe, como se sabe toda a gente sabe
que gosto muito de fazer compras em blábláblá..."
SIM! Foi esta a frase. O blábláblá substitui a porrada de nomes de marcas de lojas que a senhora referiu como sendo as suas preferidas e que claro, para além de Londres, Paris e Milão, abriram agora no Campo "Piqueno". Em relação à aliteração em "sabe", tentei pensar e escrever alguma coisa mas não consegui. Pelo menos do ponto de vista do sarcástico-gramatical. Sem comentários! Quem sabe para a próxima...
Mas não ficamos por aqui!
Terça-feira, 23 de Maio de 2006: No Estádio Municipal de Braga, da autoria do arquitecto Souto Moura (não é o PGR, é o mano, o amigo do Siza) e a primeira construção do Século XXI a ser considerada Monumento Nacional, a selecção nacional sub-21 jogava o seu primeiro jogo no Campeonato Europeu da categoria. O adversário era a França, muito embora 90% dos adeptos pensassem que eram fantasmas, tal a convicção que a equipa das quinas iria jogar sozinha, e aviar os Franciús por menos que 10-0 seria uma vergonha. Conclusão, uma equipa de putos armados em estrelas, não jogaram a ponta dum corno, a França jogou bem mais que nós, teve a sorte do jogo e o nosso guarda-redes, que vai estar presente no Mundial da Alemanha resolveu ajudar dando um frango e fazendo o resultado final ainda na primeira parte: 1-0 para a França! A poucos minutos do fim, o comentador da TVI cujo nome não fixei e ainda bem para ele e para a sua querida família, marca o penalti do jogo:
"Mantendo-se este resultado, e se este resultado se
mantiver... blábláblá"
Ah pois é! Os directos e a emoção não são desculpas para tudo e quando se tem ao lado um mestre na arte da calinada como João Vieira Pinto não há razão para lhe ficar atrás e aqui vai disto! É que mantendo-se aquele resultado, o resultado poderia não se manter, a menos que se mantivesse aquele, claro está... Melhor melhor, só mesmo Miguel Prates, na final da Liga dos Campeões que opôs o Real Madrid ao Valência que se mandou com esta:
"Real Madrid e Valência, esta é a primeira vez que
duas equipas espanholas se encontram numa final da
Champions..."
diz o colega, ao que o gajo responde:
"Sim, e ainda por cima duas equipas do mesmo país..."
Não sei se tenho coragem de comentar. É que para tal é preciso humilhar esta gente, e Deus me livre de algum dia que eu mande umas parecidas passar impune. É que duas equipas espanholas podiam muito bem não ser do mesmo país, ora vejamos, o País Basco e a Catalunha, que têm a mania que são países! Lá está, Miguel Prates estava no fundo a dar-nos uma lição de Geografia!
Só aqui dei 3 exemplos que serão, porventura, demasiados e, no entanto, poucos tendo em conta a realidade dos constituintes dos nossos media. Eu quando for grande quero ser como eles para ter a igualdade de oportunidades de mandar calinadas na TV em directo e ao vivo para todo o mundo e se Deus quiser não as aproveitar! AVÉ!

3 comentários:

Anónimo disse...

Aí está, sim senhor!
Gostei muito da alusão feita às “calinadas” dos que se dizem jet-set ou altas individualidades desta nação. Calinadas que são mais um precioso contributo para um fenómeno social que chamo de “Estupidificarão em Massa”, um fenómeno associado às “quintas de palhaços e circos de macacos” (expressão usada por uma grande amiga minha para descrever os reality shows).
Que hajam na sociedade pessoas com espírito crítico como o teu, que não se deixem levar pela lavagem cerebral que nos tentam fazer nas mais variadas áreas, desde a comunicação social sensacionalista, aos directores de programação que vão ao encontro da decadência cultural do nosso humilde povo.

Abraço. rafgenstein

Anónimo disse...

Não podias deixar passar O evento dos últimos anos... mais uma vez assino "quase" tudo por baixo, menos a parte do aquecimento global. Ora fica o reparo: o alargamento do buraco do ozono não é uma consequência do aquecimento global. Espero que aceites a correcção, abraços.

Roma disse...

Rafa:
Obrigado compadre pelo simpático comment. Também devias expressar o teu espírito crítico numa destas lides bloguísticas! Assino por baixo o que escreveste!

Fresco:
Em relação ao "O" evento não escrevi propriamente sobre isso. Tenho andado algo em baixo no que toca aos toiros. Claro que aceito a correcção, pois se é correcta. Mas destaco que o meu blog, cuja opinião do autor é 99% das vezes 100% infundada tem muito avacalhanço, como já deves ter reparado, ou, como tu lhe chamas, encanzinação do sistema. E se eu "sou humano como as pessoas" (Nuno Gomes dix it) também tenho direito às minhas próprias calino-bacoradas né? Abraço