segunda-feira, julho 03, 2006

O gajo defende!


Já se passaram 48 horas. Queria ter escrito alguma coisa logo a seguir mas não havia condições. Era demasiada emoção. A história repete-se estou eu farto de dizer (e escrever) e depende de nós a maneira como ela o faz. Os beefs foram outra vez mais cedo para casa. Outra vez à custa de Portugal. Outra vez à custa de Scolari. Outra vez nos quartos. Mas o pior de tudo foi mesmo ter sido outra vez nos penáltis... e outra vez com Ricardo!
O guarda-redes do meu Verdão, como se ainda tivesse alguma coisa a provar, resolveu mais uma vez um jogo contra os ingleses e os críticos da selecção. É caso para dizer que desta vez a chapada foi mesmo de luva branca!
Em Gambelas City não se via vivalma na rua. No Monte Branco, completamente apinhado, estavam rostos nervosos de olhos postos no televisor. Não cabia uma mosca. Bebiam-se minis e fumavam-se cigarros uns atrás dos outros. Uma barulheira ensurdecedora. Havia os que beberam de mais e iam estragando a festa, os que preferiam nem ver, os que estavam a trabalhar, os que nem portugueses eram, os pessimistas para quem tudo é mau e mal feito e os optimistas cuja fé inabalável e absoluta confiança tentavam sempre transmitir à malta. Nestes poucos encontrava-me eu.
Remates, desarmes, entradas duras, faltas, cartões, tudo servia para a malta se manifestar. Berrávamos, levávamos as mãos à cabeça, pregávamos um murro na mesa, soltávamos um palavrão, fazíamos uma careta de desepero, pedíamos mais uma mini, acendíamos mais um cigarro. E isto durante 120 minutos. Acredito que perdemos muitos anos de vida nestas condições.
Depois o apito final. Os sempre temíveis penáltis. O esforço estava feito, agora seria uma questão de sorte. Mas será, de facto, assim? Eu acho que não. Aliás, eu tenho a certeza que não. Se fosse só sorte provavelmente não teríamos ganho. Quem joga uma hora com mais um e não consegue marcar um golo não pode confiar na (só) sorte. Depois vem a História. Perdemos há 40 anos com os ingleses e desde então nunca mais perdemos. Agora queremos o 4º take da vingança. Depois as superstições. Scolari já ganhara por duas vezes a Eriksson. Inglaterra nunca ganhou nos penáltis. Ricardo estava lá outra vez, etc...
Simão marca e coloca-nos em vantagem. A pressão está agora toda do lado britânico. «Este não falha» dizia uma voz atrás de mim. «Pois não! É o Ricardo que defende!» respondemos. É díficil descrever. É como se já soubesse que ia defender. Mas e se não? Mas defendeu. Lampard, um especialista, falhou. A moral e a confiança sobem em flecha. A dos ingleses faz o contrário. Mas Hugo Viana atira ao poste. E Hargreaves marca com Ricardo a tocar na bola e a não defender por pouco. Agora de que lado está a sorte? A força anímica também rodou 180º quando Petit atira ao lado. Se Gerrard marcar os beefs ficam pela primeira vez em vantagem. Mas Ricardo defende outra vez. Postiga marca e provoca 10 000 000 de suspiros de alívio. Todos receavam que cobrasse outra vez um penálti à Panenka. O guardião inglês, Paul Robinson, deve ter pensado o mesmo porque não se mexeu. Agora estamos de novo em vantagem e é notória a falta de fé do nosso adversário, sem ganas, sem vontade, sem raiva e sem concentração. Jamie Carragher, entrado no último minuto de propósito para os penáltis permite a terceira e última parada de Ricardo, o que constituiu novo recorde da competição. Coube a Cristiano Ronaldo sentenciar o destino inglês. Exemplarmente. Logo ele que tão criticado é pelos media britânicos. Carimbou o bilhete de volta dos beefs para a Velha Albion e o nosso passaporte para Munique.
A festa rebentou em todo o país. Mais um momento de dar largas à nossa satisfação. Volto a interrogar-me. Quantos povos, mesmo que dependendo da sua selecção de futebol, têm as oportunidades que nós Tugas tivémos nestes últimos dois anos para tomarmos as ruas de assalto com uma bandeira às costas a gritar pela glória (ainda que futebolística) da nossa Nação? Porque não o fazemos mais vezes? Mesmo com menos barulho, mas com mais trabalho? Enfim...
Depois foi esperar pelo adversário. Calhou-nos a França. Os que estão sedentos de vingança do Euro 2000 viram o seu desejo concretizado. Os outros que como eu preferiam o Brasil por todas as razões e mais algumas viram um escrete sem brilho a ir para casa merecidamente. Já ninguém se lembra quem são os campeões do mundo. Os únicos que podem repetir a façanha estão em Portugal: Luíz Felipe Scolari, Flávio Murtosa e Darlan Schnneider.
Agora que venham de lá esses "avecs" que nós estamos cheios de vontade de comer essas francesinhas, baguettes, croissants, bouillabaisses, foi gras, foundues e afins! AVÉ!

1 comentário:

xistosa, josé torres disse...

Ninguém comenta.
Os seis milhões, estão c alados e os daqui da minha cidade, nem tugem, nem mugem.
Podia ter sido o "Vaía", quer dizer o Baía, mas logo o sacana do seleccionador cortou o pio ao "Pinto".
Não sou verde, sou azul, mas só azul. Daqueles que vão para a honra, na próxima época
E vivó RICARDO !