terça-feira, novembro 18, 2008

Música II

Mais 10 músicas que muito me dizem, à apreciação dos leitores:

Shitlist - L7 -> Esta música integrante da banda sonora do filme Natural Born Killers (Assassinos Natos) tem uma letra do mais positivista que há. Gosto de a ouvir enquanto escrevo sobre coisas ou gente de que não gosto. Um belo punk metal que nos diz simplesmente "When I get mad and I get pissed, I grab a pen and I write out a list, of all the people that won't be missed, You've made my... SHITLIST!" Não que seja um rapaz organizado, mas às vezes a vontade de não esquecer do que não se gosta é tão ou mais importante como a de não esquecer do que se gosta... Irónico mesmo é que enquanto uma Shitlist é imutável, já o seu inverso não é, e o que faz o precurso da segunda para a primeira, já não volta a fazer o contrário.

Odium - Rodrigo Leão & Vox Ensemble -> Poderosa música do ex-teclista dos Madredeus. É difícil de descrever, ouçam a harmonia frenética com as vozes suaves e os sons fantasistas e pode ser que se aproximem do que sinto ao ouvir esta música, uma estranha sensação de paz e consciência pesada. A música parece não acabar, e quando finalmente termina é como se me tivessem roubado anos de vida...

Total Rebellion - Blasted Mechanism vs Transglobal Underground -> Uma das muitas músicas dos Blasted sobre as quais poderia escrever. Nesta altura acho que é do que o mundo precisa, uma rebelião total que nos ponha no nosso devido lugar, seja ele qual for. "When do you mean to, how do you mean to, switch to the power gear up? Meaning a meaning, from the beggining, until the final frontier..." O problema é que antes de haver uma rebelião total que nos ponha no nosso devido lugar, temos todos que nos pôr no nosso devido lugar? Complicado? Não! Simples? Sim! Exequível? Isso agora...

O Corpo É Que Paga - António Variações -> Este rapaz nascido numa pequena aldeia do Minho, esteve à frente do tempo. Artista multifacetado, revolucionou por completo a música portuguesa, introduzindo toda uma variedade de nuances de até aí incompatíveis influências, como o pop, o rock e o fado, este último afinal, a sua maior influência. Variações foi uma das primeiras (senão a primeira) figura pública portuguesa a morrer com SIDA. Esse foi também um sinal do quão vanguardista e sofisticado foi, assumiu a sua homossexualidade numa época em que o preconceito ainda ditava regras, e inaugurou uma estatística que entretanto se tornou negra. Ninguém melhor do que ele para cantar "Quando a cabeça não tem juízo, (...) o corpo é que paga!" Aonde é que eu já ouvi isto? Ah já sei...
"Quando a cabeça rola p'ró abismo, tu não controlas esse nervosismo, a unha é que pága, não páras de roer, nem que esteja a doer..."

O Fortuna, Fortune Plango Vulnera; Carmina Burana - Carl Orff -> Uma das músicas que mais me arrepia ao escutá-la. Lembro-me da primeira vez que a ouvi há muitos anos na televisão, num anúncio do Old Spice com um veleiro cujo casco batia no mar encrespado e as ondas varriam o convés ao som dos primeiros dois andamentos da cantata que Orff, um dos compositores preferidos de Hitler, a par de Wagner, escreveu para "colorir" uns poemas em latim e alemão escritos por monges beneditinos no Séc. XII mais coisa menos coisa. O que é certo é que os sacristas dos monges escreviam bem como a potassa, e o Orff (Orffinho prós amigos) nascido numa família de eruditos e estudiosos da Idade Média, fez-se um belo músico e uma bela música. A única ópera a que assisti, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa e o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, fiquei abismado. Reza sobre o destino dos homens orquestrado pela Fortuna, simbolizada por uma roda. Tanto dá como tira, sendo por isso assustadora e ao mesmo tempo atraente. Deve-se respeitar e, ao mesmo tempo, tentar não a ter presente em muito do que fazemos... Ainda hoje gosto de cantar no chuveiro, principalmente os últimos quatro versos das duas últimas estrofes do Fortune Plango Vulnera: "Quiquid enim florui, felix et beatus, nunc a summo corrui, gloria privatus" e "Rex sedet in vertice, caveat ruinam, nam sub axe legimus, Hecubam regina"

Dama ou Tigre - GNR -> Rui Reininho, vocalista do Grupo Novo Rock bem podia estar na minha shitlist, como seguramente estará em muitas de pessoas de bom gosto, mas o que é certo que aquele estilo esquizofrénico e cocainómano de escrita tem-me como fã. Um jogo de azar estilo roleta russa, mas com portas, que ou nos mostrariam uma Dama (seria de Espadas?) ou um Tigre é a proposta do vocalista mais metro, só para não dizer homo, da música portuguesa. Acho que ainda me apanhariam a jogar esse jogo, ou não... conforme dependendo e consoante. Mas lá que gostava gostava...
"Por trás de cada porta, reinam pra eternidade, a sedução um mimo, veneno crueldade..."
Afinal o que é a vida senão abrir e fechar portas, e raramente encontramos aquilo que esperamos encontrar. Vezes há em que a Dama se torna no Tigre e vice-versa.

Vendedor de Caranguejo - Gilberto Gil -> Uma música alegre e inebriante, de um dos maiores mestres da MPB. Como ministro, não o aconselho a abrir a boca, porque quando o faz sai-se sempre mal. Mas o que a malta se esquece é que este senhor tocou com o pai de uma geração, o grande Bob Marley, e isso deixa consequências, mais do que a nível artístico e musical, a nível mental mesmo...
Voltando ao que interessa, é a história de um vendedor de caranguejo que perdeu os três com lama nos pés (malta de BMP: tão a imaginar-se a mandar uma durante a Guerra do Lodo? Acho que é isso que ele tenta mostrar!) mas cujos filhos criados na favela conseguiram ser alguém na vida. No fundo uma lição de humildade e preserverança sobre os sacrifícios que os pais fazem pelos filhos, AMÉN! Ah, e o gajo ainda fazia um descontro nos crustáceos...

Come Out And Play - The Offspring -> Para os mais desatentos ou ignorantes, é o título da famosa Keep'em Separated. Fala sobre a violência nas escolas e na moda que os putos têm de se matarem uns aos outros nos EUA. Mais uma prova do quanto nós estamos atrasados em relação aos países mais ricos, enquanto nos states os putos se matam uns aos outros, os nossos limitam-se a aventar uns ovos que nem podres estão, à ministra. Depois queixem-se da inflação, desperdiçar omoletes... bah! Politiquices àparte é tudo uma questão de educação. Quando tiver um filho não o proibirei de o levar uma Glock para as aulas, espero é que em nome da educação peça autorização à professora antes de meter um balázio nos cornos lá num rufia qualquer da turma dele... Gosto especialmente da parte: "By the time you hear the syren, it's already too late, one is in the morgue, and other's in jail, one got wasted and the other's a waste!" Poético!

Procissão de Santa Bebiana - Trovante -> Há lá tema de conversa que agrade mais ao Tuga que uma boa tosga? Os meninos bonitos da música popular portuguesa conseguiram, nesta como noutras músicas, conjugar na perfeição o tradicional com o moderno, neste caso as quadras populares sobre o vinho, que dão esta gira lenga-lenga, com uns exercícios de aritmética pelo meio para apurar o estado de alcoolemia. Se não era muito mais giro os geninhos em vez de mandarem bufar numa maquineta impessoal perguntarem: "Um e um? São dois! Quem tem vacas? Espera bois!"
Outros ensinamentos inspiradores: "Hei de morrer numa adega, e um tonel ser meu caixão, hei de levar de mortalha um copo cheio na mão!" Como completaria um amigo meu, mais vale o copo ir meio com o do Redondo do que cheio com outra morraça qualquer!

The Living Daylights - Aha -> Estes jovens que eu vergonhosamente só ouvi falar pela primeira vez quando entrei para a Universidade (que tenha como atenuante o facto de conhecer as músicas todas mas não saber o nome dos moços que as cantavam) emprestaram o seu talento à saga de James Bond. E isso nota-se logo nos primeiros acordes, um dos méritos e pré-requisitos de todos aqueles que já cantaram as proezas do 007. Se bem que numa fase de declínio é certo, Timothy Dalton não chegava aos calcanhares nem de Connery nem de Moore, é preciso não esquecer que os Eighties foram os Eighties! Pop, Rock, Disco e Electro, tudo misturado com muitas luzes, muita ganga, algum cabedal e longas cabeleiras (no caso destes até já estavam em fase de contenção capilar) e saíu um belo hit. A música vale mesmo por aquela inspiradora frase: "Set my hopes up way to high, living's in the way we die"

Resta-me adicionar um pedido de desculpas pela demorada ausência de novidades no IMPERIVM...AVÉ!

2 comentários:

Anónimo disse...

adorei, vou voltar muitas vezes!
beijinho da mãe da mafas!

M&M disse...

tava a ver que não davas uma geral no estaminé soci!!! soci pikena