Em jeito de rescaldo da época 2013/2014 da NBA terei que tirar o meu chapeaux ao grande Gregg Popovich. É o treinador há mais temporadas consecutivas ao comando de uma equipa da liga (18) e conquistou ontem o seu 5º anel de campeão. Nada mal e ainda melhor quando verificarmos que todos nos últimos 15 anos. Ou seja, em cada 3 anos, é garantido que San Antonio ganhe um título. Isto só é possível com uma grande gestão da parte dos donos/managers da equipa, mas também de uma atitude e focalização nos objectivos anteriores ao momento em que o shot-clock começa. Isto é: é preciso saber-se exactamente onde se está, para onde se quer ir, e como se vai.
É preciso muita perseverança, determinação e humildade para em 15 anos ganhar 5 títulos, curiosamente nenhum deles consecutivo. 5 vitórias em 6 finais, já agora. A única em que não tiveram sucesso foi a do ano passado, perdida estupidamente por uma "não decisão" nos últimos segundos do último jogo.
O maior feito de "Popo" e de toda a estrutura dos Spurs é terem conseguido aglomerar os jogadores mentalmente mais apropriados para o seu estilo de jogo e atitude face ao jogo em si. Tim Duncan conta 38 anos mas luta por cada bola como se fosse um rookie, é a antítese da NBA superstar com que tantas outras equipas contam mas não ganham nada. Nascido nas Ilhas Virgens Americanas, foi para o continente com uma bolsa universitária de natação, mas depressa o tiraram da piscina e lhe colocaram uma bola nas mãos e aí sim, é como peixe na água. Era rookie no primeiro título e impôs-se ao lado de uma das maiores estrelas de sempre da competição: David "The Admiral" Robinson. Sucedeu-lhe na chefia da equipa e cedeu-a por sua vez a Tony Parker, um francês desconhecido, escolhido na 28ª posição da primeira ronda do draft a quem ninguém augurava vir a ser uma das maiores estrelas do desporto da actualidade. Ginobili, outro estrangeiro, é um argentino canhoto que bombardeia o cesto como nenhum outro, e mais um que lidera numa equipa sem líderes. Parker e Ginobili ganharam 4 dos 5 anéis dos Spurs. Nesta equipa cuja fortaleza é precisamente esse conceito: ser uma equipa em todo o conceito da palavra, ainda emergem outros nomes: Thiago Splitter, um poste brasileiro de quem só Gregg Popovich conseguiria fazer um jogador digno desse nome, o substituto natural de Tim Duncan; Paty Mills, um base desprezado de todas as equipas por onde passou e que conquistou o seu lugar como tenente de Tony Parker; Boris Diaw, outro francês, lutador, sem grandes números mas impressionante na batalha das tabelas e na agressividade que traz às resfregas, ainda lança de 3; Danny Green, que o ano passado bateu o record de mais lançamentos triplos numa final da NBA é outro dos pilares da equipa; e Matt Bonner, um big guy que lança de 3 sempre útil quando é preciso carne para canhão ou para lançar em desespero. Finalmente, Kaw'hi Leonard, um extremo allaround, na sua terceira época, que tinha estado apagado nos playoffs e que explodiu nas finais, defendendo LeBron James como uma lapa e sendo o chamado "the ring factor" para a sua equipa. Foi muito justamente nomeado o Finals MVP de 2014.
Mas quem mais merece mais este anel é o lendário Gregg Popovich. Não diria que é um Mourinho do basket, mas no seu estilo rezingão e parece-que-está-sempre-zangado-com-o-mundo é dos poucos treinadores que consegue dar aos seus jogadores um tratamento capilar à Alex Fergunson. É vê-lo a gesticular e a espernear e a entrar no campo quando pede um time-out para berrar bem junto ao nariz de estrelas como Duncan, Parker ou Ginobili.
Nunca gostei muito de San Antonio, mas reconheço que é o franchise da NBA mais estável e com probabilidades de se obter sucesso, e em grande parte o deve ao "Popo". Para o ano há mais. I REALLY FUCKING LOVE THIS GAME!