segunda-feira, outubro 31, 2005

Puta de vida...

Como de costume nesta data, visitei o cemitério com a minha mãe, pus umas flores na campa da minha querida avó e rezei. Continuei o mesmo ritual junto das campas dos pais dos meus amigos, afinal, é uma dor que tenho com quem partilhar, e no meu grupo de amigos somos demasiados e demasido novos para saber o que isso é! Não sei porque põe as pessoas flores nas campas, deve ser para atenuar aquele cenário mórbido de mármore, mas continuei e pus algumas à entrada do jazigo do Alberto. Mal me lembro dele, mas ouço os meus amigos falar dele, principalmente o meu irmão e sinto uma sensação indescrítivel, que não é saudade nem pena mas que me faz lamentá-lo...desta vez fi-lo porque o meu irmão não estava connosco. Antes de ir embora passei pela última morada do Pedro, o "nosso" Sex Machine! Vi as datas e fazia exactamente 4 anos!
Os meus pensamentos transportaram-me à data inscrita na lápide e lembrei-me de ter acordado em Faro com um telefonema da Patrícia completamente histérica e de ter berrado com ela, voltei a adormecer e quando acordei de vez pensei que tivesse tido um pesadelo. Foi porém demasiado real e ao ver o histórico das chamadas do telefone constatei que realmente tinha recebido uma da Patrícia! Tomado de assalto pelo medo liguei à Cláudia cuja voz quase inaudível me confirmou a notícia! Fiquei estupefacto, sem saber o que pensar: "O Sex? Impossível! De mota? Nunca...nem mota tem!" pensava para me tentar convencer do impossível "Ou será que tinha?". Estive assim por um tempo indeterminado, o pessoal da minha casa apercebeu-se do que se tinha passado e disponibilizaram-se para me ajudarem. Mimaram-me durante os tempos em que andei esparveirado e ainda hoje lhes agradeço. Liguei para casa e combinei com a minha mãe que ainda hoje me meto aí. Ao fim de quase 5 horas de Expresso chego ao Redondo e os poucos amigos que vejo lançam-me olhares tristes e pesarosos e interrogam-me: "Já sabes?" "Estavas cá?" "Não, cheguei agora...", respondi eu sem acabar a frase. Começou para mim uma fase a que infelizmente me habituei: funerais de pessoas próximas e amigas: 3 no espaço de um ano. Com 17 anos, é até capaz de ser a altura ideal, se é que há alturas ideais para o inevitável; já não era um puto ainda sem capacidade de compreensão e ainda não era um adulto com a vida feita, esquecido desse espectro com o qual temos de lidar (ou ir lidando) ao longo da vida! Fui beber um café e encontrei uma data de amigos próximos do Sex: o Luís Gabriel, o João Manuel, o Jaime, o Paulo...um deles lembrou uma conversa parva em que ele tinha dito: "Se alguma vez desaparecer de alguma forma parva ou inesperada, não quero que os meus amigos chorem por mim, quero é que se juntem a beber umas loiras lembrarando as maluquices que fizémos." cumprimos metade, não conseguimos controlar as lágrimas. Passámos a noite nisto, à porta da casa funerária, uns a fumarem cigarros, os outros de mãos nos bolsos a suspirar e a tentar aguentar os outros quando mal nos conseguíamos controlar a nós. O ambiente era horrível, os pais e a irmã de preto, a chorarem, os familiares a amigos próximos, tudo mais velho que nós, principalmente aquilo a que chamo "A Claque dos Funerais", aquele grupo de velhas beatas cuja vida social é feita entre a igreja, a casa mortuária e o cemitério. Àquelas mais discretas consigo perdoar, mas as histéricas que mal conseguem disfarçar a falsa fé enojam-me! Lá estava ele, bonito como sempre, mas pálido o "puto" que era mais velho que eu...um autêntico playboy! Na manhã seguinte a minha mãe acordou-me e eu fiquei na cama a chorar, ainda a negar o que se estava a passar depois de uma noite que se torna estúpida mas sinceramente "quase" agradável, dá até vontade de dizer que é preciso morrer alguém para se juntarem os amigos e recordarem histórias e estórias que nos põem um sorriso nos lábios, só essas...as outras depressa são esquecidas e perdoadas quando as pessoas percebem demasiado tarde que o cheque apresentado (a vida) é alto demais para nos ser cobrado por tão poucochinha coisa.
Ouvi a voz da minha mãe atrás de mim e voltei à realidade, apercebo-me de que perdi completamente a compostura, estou lavado em lágrimas e choro compulsivamente mas em silêncio, de óculos escuros, cara molhada, um braço cruzado à altura do peito e a morder os nós dos dedos do outro, quem me visse ao longe poderia até pensar que me estava a rir, encolhendo os ombros e abanando a cabeça. No caminho de regresso ao carro penso talvez que por não ter saído da cama naquela manhã de 1 de Novembro de 2001 ainda hoje viro esquinas à espera de encontrar um gajo pequeno metido no seu blusão de cabedal, bem parecido, com um sorriso reguila e um coração maior que ele, que gostava de Rammstein, com quem jogava nas máquinas ao mesmo tempo que falávamos dos nossos amores e desamores com as raparigas e que era o Pedro Pinheiro aka "Sex Machine" um dos meus melhores amigos que nunca mais vou ver e que lembro com uma eterna saudade que me dá, no entanto, mais força para viver e amar os que me são queridos...

6 comentários:

Anónimo disse...

Caiu uma lágrima...magnifica forma de recordar alguém especial...Tá lindo!bjinhos

Anónimo disse...

P recordarmos dakeles q amamos n precisamos d fotografias p senti-los por perto. Basta termos essas pessoas dentro do nosso coração para mantermos essa chama acesa, e a certeza d q um dia nos encontraremos novamente.
Lembra-te q "a morte n é a maior perda: a maior perda da vida é o q morre dentro de nós enqt vivemos."
Um beijão

Anónimo disse...

Sabes ao ler este texto fizeste com que eu me lembrasse desse grande rapaz. Não que alguma vez tivesse esquecido, ou que o tentasse fazer. Apenas porque o lembrar pode ser demasiado penoso... E a verdade é que por vezes se tenta não o fazer, na ânsia de ser mais consolador. Ou apenas lembrar aquilo que ele foi, e não o fim que teve. Mas no fim tudo não passa de uma ilusão.
Isto que estou para aqui a escrever está sem duvida confuso, tal como e o meu pensamento quando me lembro disso. Mas não queria deixar de dizer que sem duvida lembrá-lo como tu o fizeste sem falsas consolações não é fácil... mas creio que deve ser assim que deve ser feito.

Roma disse...

Podes crer, há que engolir o rancor e não querer fazer uma justiça impossível, ele não o iria querer mas ambos sabemos o quão difícil é né? É bom saber que pensas como eu amigão!Abraço

Anónimo disse...

Um dia estive perante a uma campa... nao sabia se devia rezar para que a sua alma estivesse em paz, ou chorar por a ter perdido, ou até me rir de me lembrar dos nossos bons momentos na praia e das nossas "caralhadas" que davamos quando estavamos a nadar... Tudo me passou pela cabeça. milhoes e milhoes de sentimentos me passaram quando o vi dentro duma "caixa" se se mexer, com uma cara pálida que nunca a foi a dele. O seu corpo estava ali... sem vida... A sua alma ainda permanecia nas nossas mentes depois de tanto choro por parte dos amigos e dos parentes... Depois de encobrirem o seu corpo com terra e com um placa com a sua foto, é que me deu uma enorme vontade de chorar, deitar tudo o que tinha cá dentro para fora... tive vontade ir com ela para um mundo ao qual ainda hoje ainda nao começo, mas essa pessoa começe perfeitamente.... Os meus amigos abraçaram-me me dissendo que sentiam muito por estar sentir assim... só, completamente á deriva nos pensamentos... Ainda hoje, neste preciso momento tou a chorar pela sua ausensia e pela ausencia quem o vio a mergulhar no mar e sair de lá com um sorriso mais feliz e mais convencido de todos. Hoje, relembra a todos nós, a quem conviveu e quem o conheceu, o dia em que estavamos o mar a relembrar a sua alma no alto mar. Quando deitamos aquele ramo de flores no mar e as suas cinsas, ainda foi o dia mais triste para todos nós... pois sabiamos que ele nunca mais poderia estar dentro de nós, das nossas conversas e d o nosso mar... Até hoje faço questao de ir a campa dele e falar com ele... falar de tudo o que se passou quando ele partiu para o outro mundo...embora acredite que ele saiba todos os passos que dou... pois sei que, como ainda penso nele, ele pensa em mim...
Acredita que havia dias e horas seguidas, que quando ia lá chorava tanto e só implorava a Deus que nos devolvesse a sua alma novamente em corpo para que podessemos pelo menos dizer um adeus, e a mim principalmente (nao sei) e aos pais e tb à avó dele ( uma das pessoas que mais amo neste mundo).
A avó dele foi uma das pessoas que me deu forças, uma voz amiga que me fez aceditar que apessar de todo ( depois de nao ter mais forças de lutar tanto sofrimento), ainda valia a pena viver. Ainda hoje as suas palavras sao activas na minha cabeça ""tudo o que nasce morre, e tudo o que morre renasce em nós, e é assim que a vida nos vai fazendo crescer perante as situaçoes mais dificeis que vamos vivendo até um dia morrernos"". Amo aquela mulher, que com setenta e tal anos, posso disser, que me salvou a vida. Fez-me ver a vida como algo bom e mal, que vamos confrontar com o nosso dia a dia, à medida que a vamos vive-la. Também tenho que agradecer os meus pais por tudo o que fizeram por mim, secalhar nao da melhor forma, mas que pelo menos tentaram me salvar dum grande abismo ao qual eu estava preste a cair. Eles nao sabem, mas amo-os tanto, mas tanto... e também aos meus sobrinhos que pela sua inocensia fizeram-me ver a vida como é bela e brincalhona... lol...
Bem ... ando a devagar nas palavras, mas espero que compreendas a mensagem a qual te transmito, e a qual aprendi imenso...
A vida nunca é como nós queremos ou planeamos, acredita que quando nascemos já temos um destino traçado e nem os deuses ou Deus, o vao conseguir muda-lo. Acredita que o nosso "areté" (como diziam o gregos tem o significado de atinguir o nosso esplandor) é atinguir a nossa felecidade como a gente quer (cagando para os pensamentos dos outros), mas servindo a nós e aos outros pois é assim que nós aprendemos viver neste mundo cruel a qual o destino nos traçou. É esta a minha filosofia de viver...
Como te dize a mensagem esta aqui, e é aquela que vai ser a tua primeira impresao ao ler este teu comentário, ao teu "desabafoa2no meio do teu blog. Axo que ao leres vais tentar descobrir quem to escreveu, mas acredita que esse alguém que teescreveu te admira bastante, e o que quer é o teu bem e só o teu bem ............
Bem a minha razao de escrever este comentário foi na verdade um desabafo meu, perante a uma pessoa que infelizmente o destino também nos separou...
A minha amizade por ti vale tudo...
Bjos.
Fica bem....

Roma disse...

Obrigado, não é, realmente, preciso pensar muito para descobrir quem és... as nossas conversas cúmplices denunciam-te! Obrigado pelos pensamentos e palavras simpáticas, espero que saibas que a nossa amizade também significa muito para mim e que a quero manter por muitos e bons anos!Bejinhos