segunda-feira, junho 19, 2006

Mundial!

Dez dias depois de começar o Mundial de Futebol Alemanha 2006, à boa maneira tuga/alentejana/à-roma eis que me disponho a escrevinhar algo sobre o acontecimento mais importante do ano. Sim! Por muito que custe a admitir a muito boa gente o Mundial é o acontecimento mais importante do ano. Nem que a Madre Teresa de Calcutá, o Gandhi e Jesus Cristo ressuscitassem iriam a abafar a mediatização que gira à volta dos 22 malucos que correm atrás de uma bola por uns belos 5 kilos de ouro maciço! E se por acaso o fizessem seria para ou apoiar as suas selecções (Macedónia, Índia e Palestina, respectivamente) ou para comentarem os jogos sob o ponto de vista da paz e amor entre os hooligans para as televisões dos seus países.
Com 10 dias de mundial, uma porrada de jogos e ainda mais de golos, as conversas giram em torno da barriguinha do Ronaldo, do feitiozinho do Cristiano Ronaldo e do sorriso do Ronaldinho Gaúcho que já não é tão grande depois do jogo com a Croácia. Dica para ter um aspirar a um futuro prometedor como jogador da bola: pôr qualquer-coisa Ronaldo, Ronaldo qualquer-coisa ou simplesmente Ronaldo aos filhos, dar-lhe uma bola, esperar 20 anos e viver dos rendimentos!
Os Alemães são favoritos e como se isso não bastasse jogam em casa. Como disse Gary Lineker, Mr. Fairplay, o futebol são 11 contra 11 e no final ganha a Alemanha! O Brasil, sagrado pentacampeão há 4 anos na final de Yokohama, precisamente frente à Alemanha é o favoritíssimo na bolsas de apostas mas o famoso "quadrado mágico" de Parreira não pareceu resultar no jogo contra a Croácia e hoje contra a Austrália também deixou muito a desejar. Já que falamos em "geometrês", é caso para dizer que só um vértice estava lá (Káká), as arestas não existiram muito por culpa do meio campo dos Balcãs e dos Cangurus, e os outros vértices estavam ou gordos (Ronaldo), ou desinspirados (Adriano) ou sem espaços (Ronaldinho). A Argentina, (acabou de pregar 6 na Sérvia Montenegro) parece ser das favoritas a que practica um futebol mais esclarecido e produtivo. O cinismo italiano revelou-se uma vez mais frente ao Gana mas com os EUA nem contra nove conseguiram ganhar, e a Espanha aparenta estar mais unida que nunca (o que não é díficil, é só estar um bocadinho unida) para discutir contra tudo e contra todos, prova disso os 4-0 à Ucrânia de Shevchenko, apontada como uma das potenciais revelações da prova. Mas a procissão ainda vai no adro e muito está por jogar. Às selecções americanas Carlos Queiroz não preconiza um futuro áureo e o que é facto é que parece ter razão quando afirma que na Europa ganham os Europeus (França em 98: Alemanha no Itália 90; Itália no Espanha '82 etc...). A Costa Rica, Paraguay, Polónia, Costa do Marfim, Sérvia e Montenegro e Irão estão de fora à segunda jornada, os Estados Unidos começaram com um grande pé esquerdo, Trindade e Tobado não parece capaz de discutir o que quer que seja muito embora o espírito com que disputou os jogos frente a Suécia e Inglaterra tenha sido bastante elogiado. O México ganhou ao Irão mas empatou com Angola e adiou as decisões para a terceira jornada do grupo.
Quanto aos Tugas, depois de um começo hesitante mas suficientemente produtivo frente a Angola, ganhámos ao Irão com uma boa exibição mas que ainda assim soube a pouco no que aos números diz respeito. Armado em treinador de bancada mas humildemente consciente das minhas limitações cognitivas a nível futebolístico (já pareço o Gabriel Alves hã?) parece-me que temos que fazer muito mais pela vida. O golo a Angola foi a frio, e contra o Irão marcámos num remate de fora da área que não é, de longe, a nossa especialidade e de penálti. No entanto, nos últimos tempos a nossa selecção parece transcender-se com as grandes equipas e confio nos nossos jogadores e no Felipão para nos levarem longe, de preferência até Berlim.
Nesta hora de euforia nacionalista não posso deixar de enjoar com os "críticos desportistas". Não são os críticos de desporto, são os que têm criticar como o seu desporto e concerteza ganhariam medalhas de ouro se houvesse essa modalidade nas Olimpíadas. O bota-abaixo é de facto um desporto nacional. Como exemplo tomemos as críticas ao seleccionador Luiz Felipe Scolari. Estatisticamente é SÓ o melhor treinador que já tivemos: mais jogos, mais vitórias, mais vitórias consecutivas, a melhor classificação de sempre num Europeu, a melhor qualificação de sempre para um Mundial, o melhor mundial desde '66, até ver, etc... mas isso pelos vistos não chega. Ora é porque não convocou o Baía, agora também porque não convocou o Quaresma, depois porque lembra aos subordinados quem é o chefe, depois porque não dá umas orelhadas ao Cristiano Ronaldo, depois porque convoca o Costinha, depois porque os jogadores vão para a borga nas folgas, enfim! O homem parece ter um cadastro impressionante. Assim não admira não ter propostas de emprego e ter que ficar por cá. Nós, entretanto, e até ele resolver reformar-se ou procurar outros ares, temos que o gramar, e eu pessoalmente divertir-me lendo e escutando as suas declarações à imprensa e continuando a sonhar com o futebol do Figo, Deco, Ronaldo, Pauleta e companhia. Porque para isso ainda não é preciso pagar imposto... AVÉ!

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