quarta-feira, julho 12, 2006

A César o que é de César

De maneiras que ontem a notícia do dia era se devia ser perdoado o IRS sobre os prémios de jogo aos jogadores da nossa selecção. Na minha opinião, isto é uma jogada de propaganda para animar as hostes depois da tristeza da eliminação e da derrota no "jogo da caridade". Tamanha sugestão só pode ser piada. Digna do Badaró, diga-se...
Estas conversas são tão, mas tão digna dos portugueses, que é impossível entoar este "tão" sem parecer gay! Perante todo o nosso potencial o que fazemos nós? À partida enterramos, criticamos, botamos abaixo, enfim, armamos em Velho do Restelo. Depois, quando as coisas correm (mais ou menos) bem, ou melhor que as tais expectativas derrotistas iniciais, armamos em humildes e festejamos qualquer coisinha com a qual tenhamos sido agraciados. Foi o 2º lugar no Euro 2004, agora o 4º no Mundial 2006, isto para só falar em futebol. A cidade de Espinho, por exemplo, deu os nomes de Miguel Maia e João Brenha a uma Avenida. Pelo amor de Deus!!! Os homens ficaram em 4º lugar nos Jogos Olímpicos! DUAS VEZES SEGUIDAS!!! NEM UMA MEDALHINHA! E isto depois de terem eliminado os favoritos! Típico. E se tivessem ganho? Davam o nome deles a um Aeroporto??? A um estádio?? Eram nomeados Presidentes da República??? Por favor...
Este conformismo mesquinho é típico de um povo cínico que proclama uma falsa humildade na altura de mandar os foguetes, fazer a festa e apanhar as canas. Quando isto não acontece, dá lugar a uma autocomiseração tradicional de gente pouco ambiciosa!
Então agora, o 4º lugar numa competição na qual os portugueses tinham capacidade de vencer, não obstante o extremo grau de dificuldade dos outros favoritos e o facto da história e a estatística jogarem contra nós, é caso para perdoar o IRS dos prémios aos jogadores! Jogadores já de si pobrezinhos. Concordo, afinal milionários são os do Badminton, Judo, Ginástica e afins. O Futebol não tem condições, apoios, patrocínios nem adeptos. Tadinhos. Proponho até uma isenção do IRS até ao final da vida para aqueles senhores poderem sustentar as famílias e os seus filhinhos. Estes ridículos ofendem-me na qualidade de português. Mas também, e tal como na hora de ouvir o hino antes dos jogos da selecção, me fazem sentir mais Tuga que nunca.
Num país que tem mais de 30 campeões do Mundo em modalidades tão diversas como Boxe, Judo, Ginástica, Tiro, Trampolins e muitas mais, vamos perdoar o IRS dos futebolistas. Estes desconhecidos são os verdadeiros campeões. Não têm ginásios próprios, nem transportes, nem centros de estágio com todas estas condições. Na grande maioria dos casos, são os próprios atletas que auto-sustentam a sua própria competição com um emprego normalíssimo, treinando com afinco nas horas vagas, em detrimento das horas de lazer "normais" de qualquer um de nós. Mas a esses campeões (já para não falar nos atletas Parolímpicos) não chegam os apoios do estado. Nem subsídios, nem prémios federativos, nem isenções fiscais.
Ontem, a SIC, numa reportagem ardilosa, entrevistou dois desses campeões. Uma ginasta da qual já não me recordo o nome (estão a ver, é tremendamente injusto para a rapariga) e o boxeur Bento "Algarvio". Os dois afinaram pelo mesmo de diapasão, nada de espantoso. Mais do que prémios monetários ou isenções fiscais, do que gostariam era o reconhecimento do seu país. Reconhecimento que conquistam internacionalmente e que não têm na sua própria terra. E apoios logísticos é claro, condições de treino, fundos de apoios, etc... A SIC, como qualquer meio de comunicação social, com o dom da manipulação (isto é só uma afirmação objectiva e nenhum tipo de insinuação) até passava a imagem da Santa Casa da Misericórdia. Mas como meio de comunicação social é tão culpada pela condição daqueles campeões como o Estado ou os patrocinadores fuínhas que não se chegam à frente para apoiar os campeões. Afinal teriam o nosso reconhecimento se nós tivéssemos conhecimento dos seus feitos! Se estivessem exposição. Nos meios de comunicação, lá está. Mas os nossos media, continuam a achar mais importante as bolhas dos pés do Ronaldo do que os triunfos internacionais de atletas cegos, sem braços e sem pernas. E não estou a ser sarcástico. É a típica lei da oferta e da procura mas ao contrário. Quanto a mim não se deveria aplicar na comunicação! Numa aula este semestre, tive uma discussão com uma professora acerca de pescas: ela dizia que os pescadores pescavam os que as pessoas compravam, eu digo que as pessoas compram o que os pescadores pescam. Posso ser acusado de minimalismo mas é assim. Nestes casos a galinha nasce primeiro que o ovo. As pessoas vão ao supermercado COMPRAR, não ao Oceano PESCAR!
Enfim, perdoem lá o IRS aos senhores que não é nada que me surpreenda. Na volta a mesada que a minha mãezinha me dá também leva com o IRS e eu não sei... foda-se!!! AVÉ!

2 comentários:

Anónimo disse...

Ora finalmente alguém que pensa como eu! Este tipo de critícas deviam era ter mais exposição para que muita gente pudesse pensar e abrir um pouco os olhos! Devia haver mais iniciativas (muito mais visivéis) como a do Sr. Herman José, que eu detesto mas que teve bem ao convidar a Seleccão Nacional de Rugby de 7 para divulgar o facto de se terem tornado PENTACAMPEÕES EUROPEUS CONSECUTIVOS nesta modalidade! Falo nisto porque pratico Rugby, mas o mesmo apoio que se deu ao futebol devia ser dado a todos estes e muitos outros atletas que já levantaram bem mais alto o nome de Portugal lá fora!! Isto acabou por se tornar um pouco longo e repetitivo mas teve que ser... pa próxima escrevo só: APOIADO!!!

Roma disse...

Tens muita razão caríssimo! Eu só soube da vitória dos seves porque faço questão de ler um desportivo todos os dias. Claro que dar o mesmo apoio às modalidades ditas amadoras que é dado ao futebol é impossível, só se retirasse quase por completo o apoio ao chamado desporto-rei. Mas da maneira que futebol e política estão entrelaçados a todos os níveis achas mesmo possível?? Eu não...
Bastava o tal reconhecimento e mais "direito de antena" por parte da comunicação social generalista. Tens um bom exemplo, que é a Vanessa Fernandes: como ainda é nova é-lhe logo exigida uma medalha lá para 2008. E agora ganhou visibilidade porque foi para o Benfica. Faltam os outros: canoagem, rugby de sete, ginástica, ténis de mesa, e por aí fora. O próprio Nuno Delgado só foi reconhecido depois da medalha em Sidney. Mas o judo português já tem um extenso palmarés assim como a vela, por exemplo. Enfim... fica bem sexy nigga, um abraço de boas férias e aparece mais vezes, sabes que és sempre benvindo.