quarta-feira, outubro 25, 2006

Mudar de vida em 15 dias!

Segunda-feira, 21 de Agosto de 2006:
O dia não tinha corrido da melhor maneira, uma conversa complicada, estado de espírito perto do miserável. Em poucas alturas da minha vida me senti tão apreensivo em relação ao meu futuro como naquela noite. Mais do que nunca precisava de variar (e como essa palavra se tornaria tão importante daí em diante), de mudar qualquer coisa na minha vida, virar noutra direcção, mesmo que aquela em que segui até esse momento parecesse, e sublinho o parecesse, a mais correcta. A oportunidade surgiu em frente do meu nariz, literalmente. Ao olhar para o papel pensei «se calhar até sou capaz de mudar de opinião», e hoje concluo que poucas coisas nos ensinam tanto como a capacidade que temos de, quando for necessário, darmos o braço a torcer e mudarmos de opinião. «Então,» pensei eu, «vamos a isto, desta semana não passa!»
Por acaso passou por causa de um problema do foro "informático"...
Sexta-feira, 25 de Agosto 2006:
Identificado o tal problema, primeiro contacto com o que seria (e é) o meu futuro imediato. Recepção, blábláblá, Recursos Humanos, blábláblá, obrigado bom dia. Recursos Humanos blábláblá, blábláblá, problema e tal, surge a palavra Universidade. Expressão de admiração, olhar apreensivo, pausa... "Qual é o curso?"; sorriso interior, pausa... "Biologia Marinha e Pescas!", pausa... "Se calhar blábláblá dar-te já uma palavrinha, espera um pouco sff" pausa, sorriso interior ainda maior, regresso "Afinal não, o mais depressa possível blábláblá"; segunda de manhãzinha cedo!
Segunda-feira, 28 de Agosto de 2006:
Manhãzinha cedo, mesmo sítio, como é como não é, é preciso o papel, qual papel?? Tá tudo? Falta mais este... OK, é pra já! Tudo preenchidinho, 99,9% de honestidade e muito obrigado. Começa a ansiedade! Ah e tal e se não der e coiso dizem-me? Claro, uma cartinha pra casa. Ainda bem que não estou na minha casa...
Terça-feira, 29 Agosto de 2006: Manhã a passear de barco, caça submarina, resultado: perdi o arpão, lindo!!! Pescaria, um enormíssimo nada! Chega frustada à praia, notícia de choque. Telefonema imediato, ah pois e tal ligámos sim senhor, como é e como não é, é assim assim e assim mas e coiso, OK, amanhã quer cá vir falar connosco? Pfff, atão não hei-de querer???? Parte dois da pescaria, uma magnífica cavala à entrada da barra, uau!, tamos cheios de sorte, mas eu já tinha ganho o dia...
Quarta-feira, 30 Agosto de 2006: Mesmo sítio, terceira vez, começa a torna-se familiar. Cumprimento formal, pose descontraída, voz normal, boa, não esperava outra coisa. Boa primeira impressão, sorriso simpático, mas só simpático, não caloroso, perguntas pertinentes, respostas ouvidas atentamente, outra pergunta na recarga, mais uma resposta não estudada, como deve ser pois claro. Primeiro susto, carroça à frente dos bois, pensava que deste lado é que se fazia isso: ah e tal valores, do resto da frase só percebi €€€€€€€€€€€€! Estranhei, primeira dúvida, quem está a seduzir quem? Primeira arritmia, prontamenta calma, estávamos perto do fim. Testes amanhã? Mas concerteza!!!!
Quinta-feira, 31 Agosto de 2006: Mesmo sítio, quarta vez, primeiro momento de apreensão, adversários a jogar em casa. Não interessa, a esperança é a última a morrer. Ambiente não estranho mas deslocado, muito cedo, demasiado profissional, excessivamente desconhecido. Numa palavra: absolutamente irresistível! Faz isto, faz aquilo, faz o outro. Agora troca, vira, destroca, inglês, castelhano... «foda-se e o pino a recitar os Lusíadas em mandarim, não querem???» Ainda faltava a melhor parte, um maciço preto, peludo, duzentos kilos e uns dentinhos que são um amor, toca de pôr a mão dentro dessa boquinha bem cheirosa. A confiança não era muita nem pouca, antes pelo contrário!!! Dois terços já estão, espera... espera... espera... desespera... desespera... pensamento positivo, o melhor é no fim, espera... desespera... prova de fogo, três juízes, o bom, o mau e o vilão. O mau, ao meio, conduzia, a mesma pergunta de vinte maneiras diferentes, basicamente porquê? Caramba, não é óbvio??? PORQUE SIM??? Não esperava que esta fosse a parte mais complicada! A mesma pergunta com nuances, "mas"; "e se"; pôrra, ainda não? Apetece-me, como nós dizíamos no Grupo, vale mais o querer que o poder. O vilão metia-se, que azedice, parecia que lhe devia dinheiro, mas afinal quem é que paga a quem??? O bom aliviava, primeira impressão bestial, pessoa cinco estrelas pensei eu, bom humor com conversa séria, não resisti, apaixonei-me e já não queria outra coisa. Regresso à realidade, o mau recomeça, mais uma interrupção do vilão, remate do bom e final com o mau, sim sim, claro, concerteza, óbvio, pois, e tal... finito! Rés-do-chão, despedida, pensamento constante «demora muito tempo?» caramba, parecia um puto que sabe quando vai levar uma injecção, tem medo mas quer que venha o mais depressa possível. Ah não, dois ou três dias. Faço as contas para terça-feira para não me desiludir...
Sexta-feira, 1 de Setembro de 2006: Praia a manhã toda, praia de tarde. Quatro e tal da tarde, caminho do carro de toalha e mochila às costas, toca o telefone. Ai! Só pode, não tou à espera de nenhum telefonema. Conversa tão simples quanto eficaz, resposta a gaguejar, ahhhh, pois, sim, hummmm..., ah!, claro, 'tá bem, desliga. Dar a novidade à mãe, escrever uma sms ao mano no caminho para casa, tremiam-me os dedos, por que seria?
Terça-feira, 5 de Setembro: acidente à saída da ponte, lindo! Vinte minutos de atraso no primeiro dia, nada mal, começamos bem! Boas vindas, sorrisos calorosos em vez do afável/profissional, conversa, idéias chave, comportamento, etc... Passear a manhã toda, conhecer os cantos à casa, mandar sms's ao pessoal e deliciar-me com as respostas, almoçar. Depois de almoço o rendez vous. Apresentações (in)formais, tratar toda a gente por tu salvo uma ou outra excepção, é complicado mas vai-se fazendo. Tarde a lavar baldes, já equipado a rigor dar de caras com a chefe (o "bom") «ainda cá tás? já devias ter ido pra casa, o primeiro dia é no relax...»; agora é que avisam! Conversa marcada para amanhã de manhã. Hora de saída, entrar no carro ligar o rádio, que oportuno, regressar a casa ao som de "Este é o primeiro dia do resto da tua vida..."
Será?

4 comentários:

M&M disse...

“e hoje concluo que poucas coisas nos ensinam tanto como a capacidade que temos de, quando for necessário, darmos o braço a torcer e mudarmos de opinião.”

soci..confesso que eras a ultima pessoa no mundo de quem eu esperava 'ouvir' isto...

sublinho e assino por baixo

Anónimo disse...

sabes aquela do "be careful what you wish for. it might just come true." pois eu queria muito trabalhar no estrangeiro... :P além disso também quero (neste caso não é "queria") muito mudar-me definitivamente para outro estrangeiro, mas mais europeu. abração

Roma disse...

Paulo:

Pois é. Mas o contrário também acontece, mesmo que seja só para a vida nos dar (mais) uma lição muuuuito subtil! Desejo-te "as melhoras"! Abração e bejinho à respectiva!

Soci:

O facto de transcreveres uma frase do próprio post que comentas enche-me de orgulho! É como se fosse mais um degrau no meu caminho para o Nobel! E só tu me poderias proporcionar tamanha sensação!
Em relação ao assunto em si: Desconheço! "Hádes-me" explicar por que tinhas tão poucas expectativas de me "ouvir" dizer tal coisa!
Pra acabar: manda mas é o pedófilo às urtigas e casa comigo! Fugimos os dois para Tonga! Eu pescava peixe para o almoço com uma lança e tu colecionavas conchas para decorar a cabana!!!! Bejinhos grandes soci, embora não os mereças, AI LÓB IU!

Anónimo disse...

Compadre é com bastante orgulho e alegria que leio este teu post. Tenho a certeza que não foi uma escolha fácil, esta de dar-mos rumo à nossa vida. Não é que a tua não tivesse um rumo, mas um novo rumo é sempre uma lufada de ar fresco com um sentimento de apreensão.

Mais uma coisa bastante importante: SÃO POUCOS OS QUE TÊM OS TOMATES DE TOMAR DECISÕES ASSIM! Tá dito.

Estou feliz por ti, a sério. Deve ser um trabalho interessantíssimo e fascinante.

Vai em frente, como alguém disse: "tens o mundo ao teus pés"

Um grande abraço, Luís Guerra