terça-feira, outubro 03, 2006

OLHOS NO CHÃO BESTA!

Foram as palavras da ordem, por estes últimos tempos, na UAlg! É claro que os tempos já não são o que eram mas grande parte da tradição ainda se mantém. Sem querer armar o discurso condescendente de uma geração mais velha, tenho mesmo assim que dizer que "no meu tempo" era diferente! Não foi assim há tanto tempo mas notei logo a diferença no ano em que praxei pela primeira vez. As bestunças, para além de serem mais insolentes que o que nós éramos quando fomos praxados, eram umas desgraçadinhas armadas em vítimas do sistema: choramingavam por tudo e por nada, queixavam-se, doía-lhes tudo, tinham saudades da mamã e do namorado que tinham deixado em casa. Como se não fosse o principal propósito das praxes aliviar esses mesmos sentimentos ao mesmo tempo que se conhecem aqueles que vão ser (alguns) os melhores amigos das nossas vidas ou, no mínimo, os colegas de trabalho que iremos ter que aturar nos próximos 5 anos! E eu tenho plena consciência de que quando entrei já pouco tinha a ver com aqueles que tinham entrado meia-dúzia de anos antes. Os tempos também mudaram, as nossas praxes não foram nada comparadas com as dessa malta mais velha da mesma maneira que as actuais, para os "cotas" são quase uma brincadeira de recreio. Os tempos mudam mesmo...
Nesta altura, não deixo de sorrir quando vejo Excelentíssimos Senhores Académicos muito senhores do seu nariz, dando ordens a uma vulgar bestunça numa pose altiva e de superioridade. Sem dúvida, o estatuto assim o dita, até aqui nada contra. A diferença é que essa superioridade não se expressa no número de matrículas, na idade ou muito menos nos décibeis com que os Excelentíssimos fazem questão de bombardear as pobres criaturas.
Se foi coisa de que gostei foi de ser praxado. Claro que na altura o pensamento era mais «ehpá, quero ir mas é pra casa que já me dói tudo e não tenho paciência para aturar estes camelos» mas nos dias imediatamente seguintes já pensava «fogo, tenho saudades do pessoal me vir arrancar a casa, levar-me e pôr-me a fazer figuras tristes e pagar umas jantaradas e uns copos à pála...». No ano em que praxei fiz questão de frisar isso às bestas: aproveitem que mais tarde vão sentir falta disto. Tal como eu quando estava no lugar deles, o pensamento que lhes ocorreu naquela altura foi «este gajo é completamente maluco!como se fosse possível ter saudades de penar desta maneira». Depois gostei ainda mais de praxar. Era a oportunidade de fazer aos outros o que me tinham feito a mim, ou seja, viver uma experiência inesquecível, orgulhar-me do Curso e da instituição que escolhi, e integrar-me numa família de amigos bestiais, unidos como há poucos. Era também a altura certa para tentar corrigir o que achava que não tinha sido bom, ou, no caso, o que podia ter sido ainda melhor. Na altura as nossas reuniões não começaram da melhor maneira, havia uma "dissidente" que achava que devíamos ser mais brandos, isto é, devia ter uma costela de um qualquer outro curso de "meninos de coro" praí Bioquímica, Informática ou uma qualquer Engenharia tosca. Obviamente que foi chutada para canto. Sensatamente, essa menina optou por não praxar. Esse foi o mínimo dos stresses. Durante as mesmas reuniões surge aquilo a que chamei de Síndrome do Pré-Praxe: a insegurança típica de quem vai praxar, derivada das expectativas elevadas e da pressão de anos e anos de tradição. «será que vão entrar muitas bestunças? será que vão gostar de nós? será que se vão declarar anti-praxe? conseguiremos estar à altura dos nossos académicos? irão eles orgulhar-se de nós?» Eu, optimista como sempre, não me dei muito ao trabalho de pensar assim. Afinal, se todos os anos tinha sido mais ou menos o mesmo, porque haveria de connosco ser diferente. No worrys...
Como praxante, e sem falsas modéstias, gostaria de conhecer alguém ao meu nível e de mais uns poucos do meu ano e do meu curso. O divertimento que proporcionámos às bestunças e ao resto do pessoal que assistia às nossas parvoíces foi garantido e com factura, no caso do ano de 2003 foi um jantar de borla, uma versão da Chuva Dissolvente sobre BMP e uma rosa para as meninas, e uma faixa que diz «ORGULHOSAMENTE VOSSOS CALOIROS» assinada pelas nossas ex-bestunças. Nem nós tivémos um gesto tão bonito para os nossos Académicos!!! De ciência, a praxe tem muito, mas com um sentido de humor desmesurado, uns parafusos a menos na caxola e, por vezes, uma meia dúzia de mines na goela, juntamente com espírito de aventura e vontade de conhecer pessoas não se sofre quase nada. O certo é que os sorrisos foram mais que muitos e as recordações também, algumas serviram/servem/servirão como inspiração para os anos posteriores. É a beleza da praxe de BMP. Não sei se este ano houve a mítica tarde do Car Wash, mas asseguraram-me que o Haka ia ser feito na guerra do lodo. Ai que figurinhas...
Hoje foi o desfile e o almoço de cotas. Este almoço é digníssimo. Pelas mais diversas razões é certo, mas a que mais me marcou foi o facto de estarmos todos estragados e ao sair do restaurante o primeiro reflexo é o de pôr os óculos escuros! Uma sensação deveras estranha, devo admitir...
De resto, resta-me (e agora?plionasmo ou aliteração?e plionasmo é com "i" ou com "e"?esta é a parte "Bom Português" do IMPERIVM, serviço público by Roma) desejar boa sorte e felicidades à caloirada da UAlg, principalmente aos de Biologia Marinha, e aos renegados de Biologia! Os outros podem curtir e tal mas nunca terão o privilégio de pertencer a esta nossa troika!
A gente vê-se amanhã nos copos... AVÉ!

7 comentários:

Anónimo disse...

Olha, este ano a praxe passou-me completamente ao lado. E para dizer a verdade, no ano passado também. E no anterior já não me lembro, mas há grandes probabilidades de... também!

Correndo o risco de ser completamente excumungada, vista a coisa a esta distância, esta praxe parece-me uma perfeita idiotice. Do pouco que me tem sido dado observar, resume-me a berrar até à exaustão com umas pobres criaturas, e esse está longe de ser o propósito da praxe. Até duvido - e concerteza não me engano muito - de que quem faz a praxe saiba que ela tem um propósito e qual é ele...

Ou então estou a ficar velha. Também há essa possibilidade.

Roma disse...

Não Excelentíssima. Temos mesmo razão, os tempos mudam e as praxes já não são o que eram. De qualquer das maneiras espero que te lembres de uma jantarada no já longíquo ano de 2001 em tua casa, depois da mítica tardada do Car Wash em que um "Piu!" despoletou a ira dos Excelentíssimos e onde se dobraram telenovelas tugas em versão ainda mais tuga!
Ainda assim, não é à toa que mesmo não estando cá durante as praxes tenha sido tão requisitado e tão lamentada a minha ausência pelo pessoal praxante!Aprendi com os melhores... ;)

Anónimo disse...

Ah... Roma, pá! Estragas-me com mimos! ;)
E a telenovela era mexicana, o que já de si permite toda uma panóplia de dobragens fantásticas, que vocês exploraram com bastante mestria, devo acrescentar. Ideia peregrina, essa das dobragens! E resultou porque vocês se divertiram mais que nós.
É claro que nada se compara à vossa tarefa de enfrascar o Sinhor Malagueta... Foi uma bela tardada, sim senhores!

xistosa, josé torres disse...

Em 1966, eu e mais dois ou três amigos, acabámos com as praxes no 1º dia.
Sou de exageros extremos, mas como qualquer ser humano, só se, esse exagero, for praticado por nós. Isto há distância de 40 anos.
De política, não percebia mais do que 99% da população. Não era a favor, nem contra o regime! ERA DO CONTRA e foi contra este contra, que, se alguém se lembra, as praxes, morreram à nascença.
Não digo mais, mas no Porto, alguém poder-se-à recordar o que sucedeu em 1966!
Hoje não procederia assim, mas na altura, era só à força !!!!!!!

Roma disse...

Catarinia:
Ah pois foi, o Luís perdeu-se à grande com a gente. Aliás, quando ele chegou a tua casa já ia cargado, daí a conversa dos PIUS e das malaguetas. Mas foi uma bela tardada, essa que eu te conheci sim senhora. E agora que mesmo que me ameaces já sou indiferente te digo, (como se tu não soubesses) que desde logo aprendi a respeitar-te e a admirar-te, imediatamente antes de gostar de ti. Esse dia ficou gravado na minha memória e no estômago do Luís. Ah, e as novelas era mesmo tugas. Era o Anjo Selvagem, lembro-me muito bem!!! Bejinhos

Xistosa:

Ahhhhh... não percebi!!! Como é que foi? Afinal é contra ou favor das praxes???? E o que teve isso a ver com política??? Algo teria que ter tido, certo, mas estarei a ser demasiado ingénuo? Ou simplesmente burro?? Provavelmente ambos... repito: não percebi!

Dr. Macio disse...

"Maaaaaaann, um werther's originaaaal maaan!!!" Devias ter visto o meu afilhado na taska a repetir rua abaixo, rua acima...(in)felizmente acabou, mas VIVA AS PRAXES na mesma!!!

Anónimo disse...

Tenho a concordar contigo no seguinte.
As praxes são um bom exemplo daquilo que têm vindo a ser todos os rituais de integração e a troca da identidade pessoal e familiar pela identidade super-tribal, de super-grupo. Como elemento duma comunidade até posso achar bem algumas "bricandeiras" pois servem (para quem perde tempo a pensar nisto, como eu!) algo mais do que a simples estupidez de satisfazer as mentes curiosas e desprovidas de estímulo de alguns veteranos mais estúpidos (sim, também tive o meu quinhão!).
Assim sendo, devo concluir que apesar de, na teoria ideal do que é a praxe, concorde com o seu princípio fundamental, não posso deixar de veementemente discordar com o modo como é aplicado em algumas partes do nosso país, nomeadamente na bela UAlg. Há praxes e praxes, há abusar e perder futuros amigos (sim, porque os caloiros também servem para isso - não fosse assim não te tinha como um dos tais).
O ritual de integração também passa por mostrar que apesar de longe da família e de a iniciar um novo rumo e ritmo, os caloiros também poderão encontrar amigos e felicidade por si mesmos: é isso o fundamental da praxe, para mim! Ajudar-nos a virar por nós próprios (os professores e os benditos testes terão a sua importância fundamental) e a sabermos tratar dos NOSSOS problemas.