O Sócas voltou do Louvre e Portugal entrou em alvoroço como
já não se via desde o tornado do Algarve, a Fanny a mostrar a fanny e o benfas
de Jorge Jesus campeão! Foi o fim da picada. Não sei ao certo o significado nem
a origem desta expressão mas pronto. Gosto dela e emprego-a. Foi o FIM DA
PICADA!, meus amigos.
Eu fiz, perante as ameaças permanentes de nos
transformarmos num país magrebino mas pouco civilizado, questão de não ver a
entrevista. Ganhei as mesmas.
No day after é
que dói a ressaca. Eu não vi a entrevista, mas ressaquei, tal não foi o
escarcéu de reacções e revoluções, promoções e cartões (estou a referir-me a
eventuais remodelações governamentais e cartões de militantes e não aos do
Pingo Doce), “charlatões e aldrabões”. Eu estava a tentar não me manifestar (é
uma mania que eu tenho quando outros o fazem), eu tentei resistir, mas porra,
pá! É o mesmo que um celeb porn. Um
gajo não resiste à curiosidade. E o que vi nas edições online dos jornais e
redes sociais, estupidificou-me (mais ainda, sim, imaginem!).
Ora vamos lá ver se eu consigo ordenar as ideias:
1. Um
ex-primeiro ministro, de sabática na Francia, a viver à la gardère em Paris sem ter um tusto declarado, volta direitinho
para o horário nobre da estação pública de televisão para um programa de comentário
político, sem passar na casa partida e sem receber os 2000$00. A malta que não
votou nele, não gosta. Vá de petições. A que tem mais assinaturas nem sequer é
uma petição, é uma ordem, pá! “Recusamos” é o que lá está escrito. Como se
alguém tivesse perguntado alguma coisa à malta. Uma petição, caso as pessoas
não saibam, é uma espéce de pedido,
isto é, convém ter um pouco de humildade e modéstia na maneira como nos
dirigimos a quem a petição é feita: “Poderá, por obséquio, mandar o Sr.
Diz-Que-Afinal-Até-É-Engenheiro-Olha José Sócrates pastar!?” ou “Seria
indelicado solicitar a quem de direito, proclamar a degolação ou linchamento
popular mal o Primeiro Ministro dos XVII e XVIII Governos Constitucionais
cruzar a fronteira em Vilar Formoso?” Isto, meus amigos, poderia ser uma
petição. Agora “Ah e tal, recusamos, pá!” é bronco! É bacoco! É patêgo! É de
labrego! É à PREC, camaradas! Nem parece que veio de um CDS, mas pronto, vocês
lá sabem. É por estas e por outras que continuo a dizer que o principal
problema dos nossos partidos políticos é na comunicação e relações públicas, e
isso só é positivo nos casos do PNR e do PAN.
2. O
sim ou não. O bem ou mal. O deve ou não deve. Tudo binómios que regulam a nossa
atitude perante a vida. E o que tem isto a ver com o Sócas? Nada. Foda-se, se
querem contratar o homem, pois que contratem, digo eu! Se lhe querem pagar,
pois não concordo, mas afinal, que mal é que tem? O gajo aparentemente também
não precisa de guito para viver no luxo, pode ser que até o dê para a caridade
e indirectamente a RTP faça, de facto, serviço público. Dêem lá uma abébia ao
senhor, se fazem favor, porque se lhe deram milhões de votos para nos governar,
agora ao menos que já não nos pode governar, deixem-no estar. Se um atleta de
alta competição se reforma e faz comentários na tv, porque não o pode fazer um
político fora de forma? Teremos que admitir que pelo menos o nosso
ex-primeiro-ministro não manda tantas bojardas na gramática como todos os
neurónios do João Vieira Pinto, do Futre e do Jorge Jesus juntos. E esses têm
tempo de antena todos os dias.
3. Eu
acho que o senhor, ontem, hoje ou amanhã tem muito que conversar connosco.
Muito mesmo. Eu até me disponho a ouvir o senhor. Dá-me jeito saber, por
exemplo, como é que se faz para entregar exames por fax ao Domingo. Se já tenho
um trabalhão para os profs me responderem aos mails, imaginem por fax. Ontem só
não vi a entrevista por duas razões: porque estava em Alvalade a ver a tomada de posse dos
órgãos sociais do meu querido Sporting (em Portugal dá-se o fenómeno de a bola
parecer uma coisa séria e racional quando comparada com a política), e porque
nem sequer tenho TV e convenhamos que ver uma entrevista a José Sócrates num
café, não é o mesmo que ver o Belenenses-Guimarães prá taça, que estava a dar
àquela hora.
4. Outra
coisa que me chamou a atenção hoje, foi o peito emproado da RTP. Já fazem
separadores auto-promocionais TVI style e tudo. Música de filme de acção, números
a passar e uma voz grave a narrar: “A ENTREVISTA MAIS VISTA DE SEMPRE EM
PORTUGAL!... O MAIOR SHARE DE AUDIÊNCIAS EM 2013 SEM O DECOTE DA CRISTINA
FERREIRA!... O REGRESSO DO GAJO QUE FOI NOMEADO PELO CORREIO DA MANHÃ COMO O
QUARENTÃO MAIS SEXY DE PORTUGAL...JOSÉÉÉÉÉÉÉÉ SÓCRATEEEEESSSSSSSSS!” Aliás,
agora a sério, e em relação ao Correio da Manhã, aí terei que estar do lado do
Sócrates. Ora o homem até pode ser sexy segundo alguns padrões, como os do José Castelo Branco, por exemplo.
Mas ser nomeado o quarentão mais sexy pelo CM não é o mesmo que receber o mesmo
galardão de um DN ou de um Expresso caramba. Eu também ficaria melindrado e
quereria ajustar contas.
5. Reacções:
Para os socialistas, é o D. Sebastião. Engraçada, essa associação. A malta não
sabe História. O D. Sebas finou-se em Marrocos, armado aos cucos, depois de
levar na pá de uns talibans lá do sítio. E quanto àquela lenda do voltar num
cavalo branco num dia de nevoeiro...hé...que eu saiba o D. Sebastião nunca
voltou, ou se voltou, voltou incógnito, e se queriam cavalos brancos e nevoeiro
podiam ter antecipado o regresso em um mês, porque agora já estamos na
primavera, ainda que não pareça. Mas continuando: “PUMBA! Pôs o Cavaco no sítio!”,
como se o homem alguma vez nos últimos 6 meses tivesse saído do sítio dele.
6. Reacções:
À esquerda do PS “Cri...crii....bzzzzz...criii...”
7. Reacções:
O PSD, esse escudeiro da lealdade constitucional, esse maratonista
anti-corrupção, esse cavaleiro das boas prácticas éticas e deontológicas, veio
dizer que era inadmissível, que o senhor se quer candidatar a Belém
(compreensivelmente, pois com Cavaco no poleiro, o PSD só tem Marcelo elegível
e prof já não deve ter stamina para atravessar o estuário do Tejo a nado outra
vez), que foi 100% culpado da situação a que o país chegou, etc... Ehpá eu não
ligo muito a política, mas acho que foi o PSD que causou a queda do governo ao
chumbar o que seria o PEC IV e assim “obrigar” o Sócas a pedir socorro. Mas
isto devo ser eu a fazer confusão com outro PSD. Além disso, este PSD que é
governo nem sequer foi “aclamado” que é a parte mais gira de qualquer acto
eleitoral. Não. Mesmo com a pior crise dos últimos 30 anos, o PSD só conseguiu
chegar ao governo de mão dada com aquelo primo irritante, aquele puto
desdentado que nos está sempre a dar caneladas, o CDS de Paulo Portas. Fraquinho. Depois
veio a JSD com um número de teatro, com uma factura e coiso. Que ingénuas que
são as crianças. Como se a factura de 78 mil milhões de euros fosse o valor
real do que estamos realmente a pagar à ajuda externa. As jotas dos partidos
parecem aqueles meninos e meninas das alianças, nos casamentos. Foleiros, com o
que quer que seja que lhes vestem, e não sabem muito bem o que estão a fazer,
mas fazem-no porque senão levam uma lambada. Chega ao fim do dia e já estão
todos enjavardados. Assim são os jotinhas...
8. Hoje
o PS apresentou a sua moção de censura. Sai um lol. Uma moção de censura a um
governo de maioria absoluta é tipo aquele cartão amarelo que os árbitros
mostram nos descontos ao guarda-redes da equipa que ganha desde o primeiro
minuto, por fazer cera. Serve rigorosamente para nada. Uma moção de censura a
um governo minoritário é o mesmo que fumar tabaco light, beber cerveja sem
álcool e ir ao baile e dançar com a irmã. O que na versão PS quer dizer jantar
na Casa do Alentejo em vez de no Gambrinus, beber Porta da Ravessa em vez de
Pêra Manca e irem a uma festa bunga-bunga com a Maria de Belém. Isto para além
do timing. Parece ter sido a maneira de Seguro responder à acusação de Passos
Coelho a semana passada, de que estava à espera que o Tribunal Constitucional
chumbasse o orçamento para apresentar a moção de censura. Mas com a moção
apresentada hoje a resposta de Seguro é mais do género: “TC??? Nada disso!
Estou mesmo é à espera que o líder do PS anterior a mim e que levou o meu
partido à única maioria absoluta da nossa história apareça para me roubar o
protagonismo e ninguém se lembrar sequer desta moção de censura!” Quem se está
a rir sei eu quem é: Miguel Relvas, o especialista do governo em matéria de
fait-divers. Só com esta pode tirar o resto da semana de férias, afinal parece
que se casou porque os pilotos da TAP desconvocaram a greve e assim já pode ir
de lua-de-mel. É tão bonito quando os políticos ficam reféns do proletariado,
mesmo que seja do proletariado caviar.
9. E
agora a cereja no topo do bolo. Pérola I – Pedro Passos Coelho, segundo o
jornal Público, reconheceu perante a sua equipa governativa que pondera o
cenário de se demitir, caso o Tribunal Constitucional chumbe o orçamento. Antes
da análise do que poderá ser até uma bonita estratégia política aqui vai a
minha laracha: “É QUE NEM PENSES Ó PEDRO!” Agora, e já dizia o arquitecto,
aguenta não chora! Eu não votei nele, mas não quero que o governo caia. Ah mas
isso é que não! Atão mas esta merda agora é assim? Demite-se e depois?
Recandidata-se? Pra levar uma sova? E vai o Seguro? Ah, não, agora que me
desculpem, mas os políticos como PPC e Sócrates deviam ser condenados pelo
tribunal a VOLTAREM para o governo. Os dois, de mãos dadas como na primária, e
a olhar para os lados na passadeira antes de apresentarem decretos-lei em
dueto. Eu disse que depois conseguiria fazer uma análise que é a seguinte. PPC
com esta “inconfidência” coloca pressão no TC para passar o orçamento. Passos
Coelho deve estar a dar aleluias de Sócrates ter regressado esta semana. A
única pessoa ao lado de quem fica bem na fotografia é ao lado de Sócrates. A
única pessoa que poria os portugueses a votarem novamente no PSD de Passos
Coelho caso este tiver que, efectivamente, ser forçado a demitir-se, é José
Sócrates. Especialmente se Sócrates fosse novamente o candidato do PS mas isso
seria bom demais.
10. A segunda
pérola – Alberto João Jardim, a voz sóbria que está para o PSD como o Jorge
Palma está para o Jack Daniels, veio-se com esta: Governo não se demitirá
porque “tem apego ao poder”. Pensamento imediato de Passos Coelho “Será que na
Madeira não há net e Jardim não recebeu os memos do partido para estar
caladinho?”. Alberto João Jardim, que é um dos meus ódios de estimação
confessos, tem esta capacidade exultante de volta e meia me obrigar a sorrir
condescendentemente e com alegria quanto consto que diz uma das suas
javardeirices com a qual eu até concordo.
Se pudesse dava-lhe uma grande bacalhauzada. E depois cortava a mão pelo
ombro, mas dava-lhe um “passou-bem” à estadista, daqueles intermináveis e com
direito a milhentos flashs.
11.
Só para acabar, no texto da moção de censura do
PS, aparece a seguinte expressão: (...)Vive-se um sentimento de desesperança e
até de desespero(...)”. Isto sim já é demasiado transcendente para me dignar a
comentar.
E
pronto. Para a próxima entrevista do Sócas vos garanto que não comentarei nada.
Ou não me chame eu Dr. Eng.º José Miguel Ullrich Espírito Santo de Azevedo
Coelho da Silva.