As eleições autárquicas estão à porta (literalmente, porque é ver canetas, flyers, aventais, isqueiros, microondas, alguidares, Boeings737 e capacetes pespegados nos postigos das portas de casa dos eleitores) e estas são, sem dúvida as mais emocionantes que eu tenho memória. (Com muita pena minha, não era nascido nos tempos do PREC).
Por todo o país os que ambicionam o poleiro mais pequeno, o do poder local, mas não o menos influente ou ambicioso, desdobram-se em campanhas, alianças, clivagens e triunviratos políticos tendo como fim um único objectivo: levar o Zé a colocar a cruz no seu quadradinho. Fossem as formas aqui expressas mais arredondadas e isto aproximava-se da pornografia e aí sim, nada batia o nível de interesse e emoção que as autárquicas despertam.
Pese embora dificilmente consiga falar a sério, quanto mais escrever, a opinião que aqui expresso, ou os bitáites que aqui cuspo, foram bastante ponderadas e meticulosamente pensadas após longas horas de reflexão na problemática do poder local tuga.
Para dar a minha opinião geral sobre os partidos, começo à esquerda, o Bloco sai dos blocos de partida como sempre, na frente! Na frente da campanha, na frente da oposição, na frente do inconformismo, na frente do partido que em percentagem mais tem a ganhar: se ganhar duas autarquias, sobe 100%! De resto, o que já vem sendo habitual, muita contestação no que toca à lei (à quê?) da limitação de mandatos, muita malta nova, muita broca enrolada, como se pode ver só pelos slogans de algumas campanhas. A suprema ironia será o Bloco manter a única Câmara que tem: Salvaterra de Magos, uma terra extremamente aficcionada, liderada por um partido anti-touradas. Priceless!
Na CDU, mais do mesmo: avança com toda a confiança. Apesar de em tempos as autarquias terem sido a agência de emprego do partido do dízimo (e dos trabalhadores), os Comunistas e o seu apêndice (Sócrates dix it) embora tenham perdido algum do fôlego dos anos pós-revolucionários, especialmente no Sul e nas grande áreas metropolitanas, parecem cuidar bem do seu jardim (não é uma piada ao Adalberto mas antes uma boca foleira por haver sempre flores a montes nos cartazes da CDU) e as autarquias que detêm actualmente são das mais elogiadas e das com maiores níveis de satisfação dos seus eleitores e residentes. A prova disso são as altas percentagens com que vencem, dignas da União Nacional. Para um partido cuja democracia é um bocado diferente da minha, quando ganham, ganham à grande, sem margem para dúvidas. De salientar que a CDU não apoia nenhum candidato que tenha mais de 3 mandatos, mas apoia um ex-presidente de uma autarquia na candidatura de uma outra, Carlos Pinto de Sá (adoro comunistas de nome burguês) foi Presidente da Câmara de Montemor-o-Novo e é candidato à Câmara de Évora, pelas minhas contas, e continuando pela EN254, em 2021 será candidato à Câmara do Redondo.
O PS, mau grado meu ter um nível de competência na minha concelhia quase tão mau (ou pior) que os senhores que lá estão, tem, a nível nacional, uma postura séria. Tão séria que dificilmente a reconheço ao PS. Os Socialistas não apoiam nenhum candidato com mais de 3 mandatos noutra autarquia, filarmónica, rancho foclórico ou união ciclista. Ponto. É de estadista. E isto preocupa-me, quando um PS na oposição toma posições de estado. Muito preocupante mesmo.
O PSD, bom, querem mesmo que vos diga a minha opinião sobre o PSD? Se calhar é melhor não. O PSD resolve apoiar quem apoia o PSD. Para um partido cuja maior parte dos militantes não paga quotas mas tem as mesmas em dia, faz sentido. Filipe Menezes quer pular o rio para substituir Rio no Porto, Seara para Lisboa (este vai de IC19, não há rio), Moita Flores para Oeiras (onde, para se tornar corrupto e honrar a história recente da terra, já tem a carreira de criminalista a ajudar) e etc. e tal. Um PSD tremido no poder, tem o poder interno a soldo. As concelhias candidatam um, o partido chumba o nome e vice-versa e quanto à gramática da cena (agora já não lhe chamei lei) da limitação de mandatos, isso é pra menino, até porque quando se fez a lei era precisamente isto que se pretendia: trocar as cadeiras somente, porque isso de deixar o poder é coisa que o Povinho não compreende o quão difícil é...
Bom, o CDS já não é o partido do táxi. É mais o dos transfers. Com o seu líder irrevogável acomodado no trono do Largo do Caldas, tudo o que vier à rede é peixe. Já lá vão os anos em que em que Ponte de Lima e Vila Verde, no verde Minho, eram bastiões centristas. O Partido de Portas (PP) apoia uns quantos candidatos a reboque do PSD, para, como no caso do governo, quando for hora de abandonar o barco suspirarem "com estes cabeças de lista, eu sabia que isto ia dar merda...".
Uma palavra de apreço gigante para os pequenos partidos que dão cor e ridículo a estas eleições. Desde o candidato do PTP de Gaia, a todos os candidatos e militantes do PNR e do PAN, o meu grande obrigado a todos eles. Se não fossem eles, isto não se tornaria tão divertido.
Em relação às autarquias que mais respeito me dizem, uns pequenos apontamentos. Neste momento resido em Lisboa, que é o quarto Concelho onde já vivi. Num deles, capital de distrito, vamos para o 5º (!!!!!!) presidente de câmara em 5 (!!!!!!!!) mandatos, e com partidos alternados. Isto é, PS, PSD, PS, PSD e...mistério! Falo de Faro, onde vivi 7 anos. Os Farenses não são o povo mais sofisticado que há, mas da hora do voto, sabem sobretudo castigar. Atitude louvável, quanto a mim, pois à falta de melhor, salta fora. Já mereciam uma equipa digna e honesta, os eleitores de Osonoba. No Concelho onde voto, o Persistente da Câmara só vai deixar de o ser porque a tal coisa da limitação assim o obriga. Se não, bateria o record de Salazares, Fidéis, Estalines, Yong-Ils e afins, todos juntos. Em Portimão, um PS fortíssimo em território mais ou menos hostil, deixa uma autarquia endividada mas com obra feita. Mal ou bem, Manuel da Luz ("herdeiro" do malogrado Nuno Mergulhão) colocou Portimão no mapa, desenvolveu a cidade e embora de maneira muito discutível, proporcionou aos seus eleitores e residente um nível de vida bastante razoável quando comparado com outras cidades maiores. Em Lisboa, espero sinceramente que António Costa ganhe só pela simples razão que isso implica que Fernando Seara perca. Primeiro porque vivo mesmo por baixo da Judite e desconfio de um gajo que já dormiu com ela. E depois porque é um dos saltitões do PSD que por mim podiam era saltar da ponte. Vivo cá há pouco menos de um ano e é tempo insuficiente para avaliar convenientemente o trabalho de uma autarquia destas dimensões, mas no geral, oiço mais elogios que críticas ao trabalho de António Costa que, a meu ver, teve um grande mérito, puxar para o seu lado dois dos seus antigos opositores, de credibilidade reconhecida: Helena Roseta e Sá Fernandes. De resto, Lisboa vai passar de 53 para 24 freguesias, perdendo 30 e ganhando uma (Oriente/Parque das Nações) pelo que vai ser engraçado observar as fusões de freguesias de diferentes partidos, a minha por exemplo (S. Jorge de Arroios) é PSD e vai fundir-se com outra PSD, Anjos, e uma PS, Pena.
Agora, camaradas, e como diria a Serenella, "Dia 29 anda à roda!". Votem bem: não votem MICRE!"
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