quinta-feira, dezembro 01, 2005

Feriado

1º de Dezembro. Feriado tão ambíguo para a minha pessoa. Por tantas e diversas razões. 365 anos se passaram desde que arreámos nos espanhóis a última vez (sem contar com o 20 de Junho de 2004 em Alvalade) e a Duquesa de Bragança proferiu a célebre frase "Antes Rainha uma hora que Duquesa toda a vida..." decidindo assum a subida de D. João IV ao trono. O fundador da última Dinastia da nossa Monarquia decretou Nossa Senhora da Conceição como a Santa Padroeira de Portugal (esse feriado é já dia 8) e que rei algum voltaria a usar a coroa, entretanto ofertada à sua imagem que ainda hoje está em Vila Viçosa. Para muitos, quiçá descendentes do Velho do Restelo, foi mau, foi mau e foi mau. Provavelmente seríamos hoje mais uma Catalunha, mais um País Basco, etc. Falaríamos Castelhano e Português, ostentaríamos um orgulho estúpido, reclamando permanentemente a parte de um todo. Em disso continuamos a ser pobrezinhos e orgulhosos, olhando continuamente para o irmão ibérico como se fosse ele o mais velho. Não é, mas é o maior e mais forte e porque nós deixamos.
História àparte, não fico indeferente ao 1º de Dezembro. Neste dia nasceu a pessoa que muito provavelmente mais gostou de mim e amou. À sua particular maneira, certamente, mas sem qualquer dúvida. A minha querida avó materna faria hoje 81 anos, deixando-me sem oportunidade de lhe dar os parabéns nos últimos 3 anos. Nesse 1º de Dezembro de 2002 já não fiquei indiferente a um outro facto: faltou à reunião dos Antigos Alunos do Liceu de Évora um dos seus mais entusiastas elementos, o meu pai. Évora é talvez a cidade do país que mais celebra esse dia de 1640, parece que andou por lá um gajo chamado Manoelinho a fazer estragos e desde aí nunca mais se esqueceram disso. Aproveitando a data, a Tuna dos Antigos Alunos do Liceu de Évora reunia, quais pais de família nostálgicos a matarem saudades da mocidade boémia. Nas semanas antecedentes, D. Vicente Roma transformava-se, os olhos brilhavam e era vê-lo caminho de Évora com o estojo do banjo ou do bandolim pronto para mais um ensaio, no dia tudo tinha que correr bem. Hoje já não oiço tocar a Marcha do 1º de Dezembro com o trinar das cordas duplas, muito embora tenha a música na minha cabeça o suficiente para soltar um assobio mal conseguido.
Ironicamente, (e porque a vida em si é uma ironia) foram estas perdas que em grande parte me fizeram crescer um pouco, moldando a minha maneira de ser e de estar, ensinando-me mais com a sua ausência do que antes quando estavam ali à mão.
Para mim, hoje, este dia já não é o da Restauração da Independência, é feriado porque recordo especialmente duas pessoas que já não tenho comigo, que hoje bastante falta me fazem, e com quem não consegui aprender tudo aquilo que tinham para me ensinar.

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