domingo, maio 28, 2006

Portugal 4-1 Cabo Verde


Estou a rebentar de orgulho! Orgulho de ser PORTUGUÊS, orgulho de ser ALENTEJANO! Hoje, pela primeira vez na história, a selecção de todos nós disputou um jogo no nosso ALENTEJO! Escusado será dizer que foi uma festa. Claro que seria uma festa em qualquer lado, na Amadora então nem se fala, mas isso seria dum outro ponto de vista.
Há 3 meses atrás começou-se a construir o novo complexo desportivo do Lusitano Ginásio Clube, essa hedionta instituição, que juntamente com o seu rival Juventude Sport Clube teima em adiar a concretização da esperança que é ver uma equipa de futebol profissional de Évora no primeiro escalão do futebol tuga. Mas isso também é outra conversa. Há 3 meses dizia eu, onde há agora o que já se começa a parecer com um complexo desportivo não havia nada. A decisão de ser Évora a acolher o estágio de preparação da selecção nacional para o Mundial da Alemanha catalisou a construção do estádio. Bancadas amovíveis foram colocadas para poderem suportar as cerca de 10 000 pessoas que quiseram apoiar ao vivo e a cores os nossos heróis. Os Alentejanos, estereotipados de preguiçosos, não pouparam esforços, e deram o exemplo de como é possível fazer depressa e bem no nosso cantinho à beira-mar plantado. É verdade que podia ser melhor, os acessos ainda não estão completos, levamos um banho de pó só para lá chegar, a sinalização é fraca, e os prometidos autocarros não davam vazão a tanta gente. Mas ninguém esmoreceu. O espírito de um jogo das quinas é diferente de qualquer jogo de clubes. Só quem já viu a selecção ao vivo o consegue descrever. O caminho para o estádio, feito de carro, autocarro ou a pé, é uma autêntica passerelle. Cachecóis, bandeiras, lenços, apitos e inumeráveis outros artigos de propaganda patriota são exibidos com orgulho pelos adeptos. Em minoria, os adeptos rivais são desportivamente cumprimentados, até mesmo com alguma condescendência, como se à partida já fossem levar 3 no papo. Na maior parte das vezes acontece...
Ouvem-se os batedores da GNR ao longe e esticam-se os pescoços para ver passar o autocarro mais valioso do mundo, bem lá ao fundo. Mais uns quantos batedores e ele aí vem, verde e rubro, uma mancha amarela, a esfera armilar, símbolo do mundo que descobrimos há 500 anos e que agora nos dispômos a conquistar à força de pontapés na bola. À chegada ao estádio, para além de t-shirt, cachecol, boné e mega bandeira caída sobre as costas, já vamos atafulhados de material promocional dos patrocinadores e parceiros da Federação: telefónica, combustíveis, internet, bebida, enfim, uma panóplia de empresas que quer fazer do sucesso desportivo daqueles onze magníficos o seu sucesso comercial.
Uns 20 minutos na fila para entrar e eles aí vão, cânticos ensaiados, bandeirinhas no ar e sorrisos nos lábios. O nervoso miudinho passa a graúdo e a ânsia de que o jogo comece é grande. Imagino a dos jogadores! A bancada parece um castelo de cartas, mas felizmente é só aparência, de facto é pura engenharia. Procuramos os nossos lugares e sentamo-nos a admirar o ambiente. A claque adversária está animadíssima, tambores pandeiretas e gargantas afinadas para nos darem cabo dos tímpanos. Os portugueses, bastante mais calmos, quase fleumáticos até por vezes, lá gritam pelo seu país de vez em quando. Às seis da tarde de final de Maio, no Alentejo, o Sol ainda aquece, mas nada que impeça o povão de practicar a Hola mexicana! Há vinte anos, o mais bonito fenómeno da bancada de um estádio começou no México. A nossa selecção estava lá, mas esperemos que este ano a sorte seja outra na terra das salchichas. As selecções sobem (neste caso desceram) ao relvado. Fotos e troca de galhardetes da praxe e escuta-se o hino da equipa visitante. No curto espaço de tempo entre o cessar das palmas dos cabo-verdianos e o começo d'A Portuguesa abate-se um silêncio quase tumular sobre a planície alentejana, quebrado apenas pelo ruge ruge do abrir dos cachecóis e por um ou outro adversário mais irrequieto. Aos primeiros acordes inspira-se fundo, e quando nos sai da garganta o "Heróis do Mar, Nobre Povo..." um arrepio preenche-nos por dentro. Os pêlos da nuca ficam eriçados e o coração dobra de tamanho. Canta-se de sorriso aberto e no final, "Contra os Canhões, Marchar, Marchar..." já se bate palmas e bate-se com os pés no chão para dissipar o nervoso enquanto se pensa: "Nunca me senti tão Português!". O jogo vai começar... temos que dar cabo deles!!!!!
A bola sai nossa, três ou quatro passes, bola no guarda-redes de Cabo Verde. Bola reposta, alívio de cabeça de um dos nossos centrais, meio-campo, desmarcação do Pauleta, passe, remate à entrada da área rasteiro e colocado e GOLOOOOO!!!! Não se podia ter começado melhor!! Palmas e gritos por PORTUGAL ainda não tinham acabado os primeiros e já recomeçavam.
Mas Cabo Verde, ambas claque e equipa não se deixaram ir abaixo. Pelo contrário, os jogadores jogavam com alma e pulmão, queriam mostrar-se e perante umas das melhores equipas do mundo motivação não lhes faltava. A claque, insuperável, correspondia na bancada com batuque, gritaria, danças, resumindo, muita festa! O empate chegaria a meio do primeiro tempo, aproveitando um ataque rápido e um corte infeliz do Fernando Meira, direitinho para dentro da sua baliza. A bancada quase veio abaixo. Os stewards não davam conta dos entusiásticos africanos que quase invadiam o relvado. Curiosamente ou não, os jogadores não festejaram directamente em frente aos seus adeptos, quem sabe por ter sido auto-golo, e talvez por isso a confusão não foi maior. Mesmo assim, a GNR reforçou a zona da claque africana, completamente extasiada. Portugal ainda marcou o segundo no final da primeira parte, depois de um canto do Figo e cabeçada do Pauleta. O laboratório do Felipão a dar frutos. Curiosidade do jogo foi a paragem aos 25 minutos de jogo em cada uma das partes, para os jogadores reporem líquidos e receberem indicações dos bancos. Os Alentejanos, habituados a suportar o calor imperdoável da sua terra, e estranhando a novidade, não aprovaram e assobiaram. Mas decerto compreenderam...
Na segunda parte, Petit marcou o terceiro com um belo remate a meia altura, de fora da área e Pauleta fechou a contagem na cobrança de um livre directo, a penalizar falta sobre Ricardo Carvalho, depois de grande jogada individual do nosso central. O jogo acabou mas a festa continuava à saída do estádio, bem expressa nos sorrisos dos portugueses e nos tambores dos cabo-verdianos, que embora derrotados não se inibiram de festejar.
O primeiro ensaio para Colónia estava feito. Agora falta o Luxemburgo em Metz e depois é a sério. Ao abandonarem o nosso território e chegados à Alemanha, os nossos craques vão ser transportados num belo (na realidade horrível) autocarro da Hyundai, cuja inscrição de apoio foi escrita pelo meu mano: "À janela uma Bandeira, no relvado uma Nação inteira! FORÇA PORTUGAL!". Até lá, vou continuar a respirar selecção, porque gostava de estar no lugar deles, e, uma vez lá, gostava de saber o que se sentia e escrevia deste lado. Sempre optimista, quase ingénuo, mas nunca diletante, acredito que TODOS JUNTOS seremos capazes de fazer aqueles cromos da bola o que eles são: CAMPEÕES! AVÉ!

2 comentários:

Picasso disse...

Não se podia antes mandá-los a todos para o Burkina Faso?

Roma disse...

Gambuzino:

"Coicidência" tá mal escrito parece-me. Mas enfim. E terá mesmo sido "coicidência" termos estado no mesmo jogo?? Se tem assim tanta certeza de que não visitei o seu blog que lhe poderei dizer para provar o contrário? De facto, há certas e determinadas parecenças... porque será???
Depois terei o descaramento de dar umas dicas, agora não que ainda estou a vibrar com as guitarradas do Santana, o Carlos.AVÉ!