And the winner is...

XARAM! A pedido de muitas famílias, agradavelmente mais que as esperadas e surpreendentemente com mais tom de exigência que de pedido, aqui fica, senão em primeira, em segunda ou terceira e meia mão o texto vencedor da modalidade de Crónica de Opinião do 1º Concurso Campus Literário organizado pela Associação Académica da Universidade do Algarve! Acerca do autor, de referir apenas que é um tipo simpático, alto forte e espadaúdo e muito bem parecido. Resumindo: uma jóia de rapaz! Apreciem a «boa estrutura do texto», a «capacidade de análise», «o sentido de ironia mordaz» de um «observador nato» (caracterização do júri) e os seus completamente e redondamente falhados objectivos de escrever uma coisa como deve ser. As causas de tal fracasso, o autor prefere explicar depois. HAHAHAHAHA, que bem que lhe fica, mas têm que o desculpar, afinal tem que espremer esta vitamina para o ego até ao fim não? Cá vai:

Identidade Precisa-se

Por estes tempos, em Portugal, mais que uma crise económica, existe uma crise existencial, ou, como eu gosto de dizer, uma crise de identidade. O Zé Povinho perdeu a carteira, onde juntamente com o dinheiro se encontrava o seu BI, e ainda por cima ficou paranóico. Este pode ser o retrato do nosso país, à actualidade. Poderia ser uma legenda de um cartoon do Zé Povinho, personagem de Bordalo Pinheiro. Por estas linhas, tento interpretar porque lhe terá ele chamado Zé Povinho e não Zé Povão, por exemplo.

A nossa falta de orgulho “tuga” só encontra rival na nossa falta de dinheiro. Nos últimos anos, muito à nossa maneira, temos vindo a assistir a um incremento do patriotismo em cada “tuga”. Digo à nossa maneira porque é precisamente na palavra “tuga” que tudo isto começa. Não é patriotismo português, é patriotismo “tuga”, o único que um português consegue ter sem conseguir ser olhado de soslaio pelos restantes “tugas”. Mas sou da opinião que este é um processo positivo, que pode, por arrasto, levar à recuperação da nossa auto-estima e, quiçá, à recuperação económica!

No campo político somos anedóticos. Digo somos porque considero que, tal como diz o provérbio, “De médico e de louco (político) todos temos um pouco”. Gostamos sobretudo de dizer mal do governo, e se para mim essa é, de facto, uma das utilidades do executivo, por outro lado a maneira como o fazemos não podia ser mais errada: fazemo-lo por desporto, sem conhecimento de causa, como se cada acha que mandamos para uma fogueira que precisa de ser apagada fosse uma golfada de oxigénio, não para os nossos pulmões mas para o nosso Ego, que como toda a gente sabe é o pequeno espanhol que vive dentro de cada um de nós. Neste campo, o crescente desinteresse da juventude é um factor por demais preocupante. Correr o risco de uma não renovação dos quadros políticos só poderá atrasar um desenvolvimento que já de si é lento, e acentuar uma estagnação que deixará de poder ser disfarçada.

Em termos culturais estamos à altura, leia-se tão atrasados como no resto. O Zé Povinho não deverá mesmo ter começado a primária, quanto mais ter acabado a 4ª Classe; deveria pertencer àqueles 12% de população analfabeta existente aquando da nossa entrada na CEE, em 1986. O mais assustador porém, é ano após ano verificarmos a “feliz ignorância” em que vivemos, que ao longo dos tempos tem sido pilar basilares de sistemas ditatoriais como o nosso Estado Novo ou, noutra perspectiva mas com a mesma função, a Igreja Católica. O problema é que no Século XXI esta ignorância não pode ser senão consciente, tal a quantidade de informação que nos rodeia, o que é sinal expressivo da nossa incapacidade e incompetência. Todos os anos, por altura da saída dos resultados das candidaturas ao Ensino Superior faço questão de ver os noticiários com redobrada atenção. Há sempre aquelas entrevistas de rua, e vimos os nossos futuros advogados, médicos e engenheiros a fazer figuras de bradar aos céus. Agostinho da Silva, um dos mais respeitados pensadores do último século perguntava-nos “Afinal o que é a cultura geral?” pois do outro lado do mundo a resposta poderá ser diferente da dada aqui. Sem dúvida. Realmente, um aluno da Faculdade de Letras que não sabe responder quando lhe perguntam quem escreveu Os Maias, mais que falta de cultura geral, tem falta de inteligência. Nestas alturas, aprendemos que esta expressão é um eufemismo para burro, tão só, pura e simplesmente.

Outra das palavras do momento é “Globalização”. Esta pode passar pelos moinhos de vento contra os quais D. Quixote lutava heroicamente, sendo neste caso D. Quixote a esquerda portuguesa, em particular o enérgico Bloco. Afinal o que é a Globalização? O que é a Aldeia Global? Segundo estes senhores, é a perda de identidade de um povo, em termos culturais, sociais e etecetera. Ora eu pergunto-me, se não serão estes D. Quixotes os principais catalisadores dessa mudança que tanto temem, ao condenarem, por exemplo e entre outras, actividades que fazem parte da identidade e património de um povo, como são em Portugal as corridas de toiros à portuguesa?

A história repete-se, toda a gente já sabe. O que não parecemos saber é identificar quando como e onde se dá essa repetição, principalmente quando fazemos parte dela. Portugal, há 500 anos uma potência mundial a nível económico, bélico e científico-tecnológico, perseguia na altura os Judeus, uns séculos depois os Jesuítas. Uns séculos depois acolhia Judeus e espanhóis perseguidos, e ainda no mesmo século travava uma guerra em três frentes da África Negra. Quase que é giro não é? Hoje, nos primeiros anos de um novo milénio, “portugueses” são deportados do Canadá. Hilariante! Estes “portugueses” que teimo em colocar entre aspas, armados aos cucos, (prova inequívoca que falamos de “portugueses” de gema) foram “ganhar a vida” para o outro lado do Atlântico, a maior parte deles muito altruisticamente a pensar “no futuro dos nossos filhos” que ainda não tinham. Uma vez lá, ingénuos e burros, deixam-se enganar por outros “portugueses” (estes mais marroquinos que portugueses) que lhes prometem apresentar a galinha dos ovos de ouro, Made in Canada. O negócio é ganhar uma pipa de massa a fazer lá o que cá é demasiado vergonhoso para fazer: limpezas para elas e obras para eles. Tudo isto com um maravilhoso visto de turista, garantido e com factura, que tem a duração de 6 meses, qualquer coisa como 3650 dias, mais dia menos dia, se fizermos as contas a dez anos sem contar os bissextos. Ora estes 6 meses transformam-se em 10 anos num instante, porque pelos vistos (e isto não foi nenhum trocadilho) os canadianos têm mais que fazer que guardar convenientemente as suas fronteiras, tal como nós fazemos cá e esquecendo-nos que temos a sorte de estar geograficamente na pontinha da pontinha da Europa. Ora o novo governo canadiano, conservador, discorda desta política e resolve, em vez de carimbar os passaportes, carimbar o selo de retorno dos “tugas” canadianos. Escandalizados perante tal demonstração de legítima soberania, ei-los que aterram em Portugal choramingando e atirando farpas ao governo, reclamando apoio que faltou. É nestas alturas que eu gostaria de ser do governo. Mas seria mais mal-educado, arrogante e prepotente que aquele senhor que governa um feudo a que chamam Pérola do Atlântico. Então é assim: raspamo-nos sem dizer água vai, vivemos trabalhando ilegalmente 10 anos nos Jardins do Éden, ou assim pensávamos, e uma vez descoberta que nos é a careca temos a lata de reclamar! Quem sou eu? Português pois claro.

Há 400 e tal anos, um visionário zarolho exprimiu como poucos esta nossa mentalidade mesquinha. Criação do grande Camões, o Velho do Restelo é, quase sem dúvida nenhuma tetra-tetra-treta-avô do tal Zé Povinho. Proponho mesmo que lhes façamos testes ao ADN!

Perante tal herança genética não nos resta senão enfrentar o dia de amanhã com a esperança de ser o dia em que vamos recuperar o nosso BI que perdemos quando perdemos a carteira. Embora possamos recuperar a carteira sem o BI e vice-versa não o fazemos, e enquanto assim for, vamos tendo BI’s provisórios, como iremos ter certamente pelo menos umas semanitas aquando do Mundial de Futebol, em que orgulhosamente ostentaremos a nossa bandeira na janela e cantaremos “A Portuguesa”, cuja letra, tal qual os nossos heróis futebolistas cujas vidas e sucesso todos invejamos, mal sabemos, para aviar numa primeira fase, Angolanos, Iranianos e Mexicanos.

Depois logo se vê...

Se perceberam os erros acima referidos, exceptuando as lógicas diferenças de opiniões pessoais, parabéns! Se não, podem colocar as dúvidas, já que o autor, com um pseudónimo tão original como as músicas do Quim Barreiros me deu directrizes e autorização para as esclarecer. Depois não digam que não faço serviço público. AVÉ!